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Fernando Martins

A onda forte

O professor de História Ron Jones, de um colégio secundarista de Palo Alto, na Califórnia, realizou em 1967 uma curiosa experiência com sua turma de 30 alunos. Adolescentes, como se sabe, costumam ser indóceis e pouco afeitos aos estudos. Aqueles não eram diferentes. Jones, porém, conseguiu em menos de uma semana dar-lhes disciplina e despertar neles o interesse pela escola. O experimento ainda hoje merece ser lembrado pelos ensinamentos que deixou.

No primeiro dia, Jones convidou todos a seguirem as normas que iria propor. Primeiramente, era preciso haver respeito à autoridade. Ele tinha de ser chamado de "senhor". Em segundo, deveria haver organização: uma forma correta de entrar e sair da sala, de responder às perguntas e até mesmo de se sentar.

Os jovens aceitaram o desafio. Logo perceberam os benefícios de serem organizados. Passaram, então, a se sentir orgulhosos e estimulados a seguir regras. O interesse pelos estudos cresceu. A classe se uniu em torno de Jones e do objetivo comum superior que ele simbolizava – o engrandecimento da turma. Descumprir as normas passou a ser socialmente vergonhoso. Isso continha o ímpeto individualista de alguns em sair da linha e prejudicar a maioria.

Aquilo era como uma onda positiva. Foi quando Jones batizou o movimento de Terceira Onda – porque, segundo um antigo dito popular, numa série de ondas, a terceira sempre é a mais forte. Uma saudação e um símbolo foram criados para o movimento. E os alunos passaram a arregimentar estudantes de outras turmas. Ao fim da semana, cerca de 200 já estavam no grupo.

Tudo parecia bem. Mas, no quarto dia, jovens começaram a denunciar seus colegas pelo descumprimento de normas, exigindo punição. O sentimento coletivo havia se exacerbado tanto que anulava as individualidades e impedia qualquer discordância interna. A Terceira Onda havia saído de controle e Jones a encerrou no quinto dia.

O professor, como pretendia desde o início, só queria mostrar a seus alunos como pessoas liberais e democráticas podem ser seduzidas por um discurso carismático, autoritário e coletivista que massacra o indivíduo em nome de um bem maior. Era uma experiência sobre o que havia acontecido na Alemanha nazista. Apenas 22 anos após a queda de Hitler, Jones mostrou que as condições que levaram ao totalitarismo nazista podiam ser recriadas.

Por isso o experimento de Jones vale ser lembrado hoje – exatamente quando se completam 80 anos da chegada do nazismo, por vias democráticas, ao poder na Alemanha. O experimento do professor californiano foi, enfim, uma onda fraca. Mas uma mais forte sempre pode vir logo depois.

PS: a experiência de Ron Jones, um caso real, inspirou o filme alemão A Onda, de 2008.

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