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Fernando Martins

A onda que nos desnorteou

O governo federal parece navegar sem rumo definido, para onde sopra o vento

O número recorde de demissões em dezembro – 654,9 mil em todo o país – mostrou que o que era para ser apenas uma marolinha virou uma ressaca. Com chance de virar um tsunami. E, como um banhista que é pego de surpresa por uma inesperada onda forte, governo, empresários e sindicatos de trabalhadores parecem estar desnorteados diante da ameaça de que o país pare de crescer. Cada um corre para um lado, num salve-se-quem-puder que pode levar todos à ruína.

Na semana passada, industriais e sindicalistas começaram a discutir a possibilidade de se reduzir a jornada de trabalho e os salários dos trabalhadores para evitar novas demissões. Parecia ser uma ideia razoável diante do risco do crescimento do desemprego: os funcionários aceitariam trabalhar e ganhar menos enquanto as vendas estão baixas; e a empresa concordaria em manter os empregos.

Mas eis que o acordo, para o empresariado, só tem um lado ganhador: o da iniciativa privada. Sob a alegação de que é o mercado que garante os postos de trabalho, os industriais se recusaram a dar uma garantia mínima de que empregos serão mantidos, mesmo que haja redução de salários.

É a perfeita não-solução para a crise econômica. Como os industriais esperam que os trabalhadores consumam seus produtos e movimentem a economia se vão ganhar menos e não terão a certeza de que estarão empregados daqui a um mês? O natural é que poupem seus salários para o possível período de desemprego. Ou seja: o acordo reduz custos para as empresas, mas tende a agravar a crise econômica no longo prazo.

Os sindicalistas, em resposta aos industriais, elevaram o tom e partiram para o embate. Não só exigem que não haja nenhum tipo de flexibilização das relações trabalhistas como alguns chegam a propor inclusive que o governo, por decreto, garanta a plena estabilidade no emprego. Obviamente tal medida, ainda que fosse possível, só resolveria parte do problema dos trabalhadores, pois metade da mão-de-obra brasileira trabalha na informalidade e não seria beneficiada.

Já o governo federal parece navegar sem rumo definido, para onde sopra o vento. Por ora toma medidas que atendem ao interesse mais geral da população. Foi o caso do aumento do número de alíquotas do Imposto de Renda – que na prática representa mais dinheiro para a classe média consumir. O prometido reajuste real do salário mínimo é outro exemplo, pois deve elevar um pouco a padrão aquisitivo da população de baixa renda.

Mas, na outra ponta, o governo adota medidas que beneficiam apenas alguns setores produtivos – justamente aqueles que têm lobby mais forte. A desoneração tributária para a compra de carros é um exemplo desse injusto jogo em que apenas os "amigos do rei" conseguem ser ouvidos e atendidos.

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