Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, os índios fi­­caram encantados com os badulaques que o homem branco lhes oferecia: espelhos, machadinhas, tecidos. Durante décadas, os presentes ajudaram os lusos a conseguir o que queriam dos indígenas: aliança contra tribos hostis, informações sobre as riquezas da terra e trabalho para extrair o pau-brasil.

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Parece que nós, brasileiros, herdamos aquele comportamento tupiniquim de fascínio com tudo o que vem de fora, independentemente de sermos pobres ou ricos. Na periferia das grandes cidades, proliferam hoje os batismos de crianças com nomes terminados em "son" – os pais querem que os filhos pareçam estrangeiros. E, nos bairros nobres, os edifícios de luxo quase que invariavelmente são batizados com expressões em inglês, francês ou italiano. Afinal, é mais chique do que o bom e velho português nosso de cada dia.

Mas, ainda que uma quantidade significativa do que chega do exterior seja boa, há muito "badulaque". Além disso, a admiração acrítica dos modelos estrangeiros tende a nos cegar a respeito de nossos próprios defeitos e potencialidades. E, ao não sabermos quem somos de fato, perdemos oportunidades de caminhar com as próprias pernas e de encontrar caminhos novos.

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Certa vez, assisti na televisão a uma entrevista de um economista que me chamou a atenção para esse problema. Infeliz­­mente não me lembro do nome dele para dar-lhe o devido crédito, mas basicamente o estudioso dizia que os pesquisadores brasileiros miram-se quase que exclusivamente em modelos de fora para interpretar o país. E, pior, ignoram dados fundamentais da realidade nacional.

O economista exemplificou contando sua busca infrutífera, em universidades brasileiras, de alguma pesquisa sobre a economia do fiado – uma tradição em todo o país. Não encontrou uma única, embora esse seja um sistema de crédito popular que funciona bem há séculos e do qual poderia ser extraído conhecimento importante.

Por vezes, não enxergamos nem sequer aquilo que pode servir de modelo inclusive para os estrangeiros. Músicos populares dos quatro cantos do Brasil já encontraram, por exemplo, a alternativa para a crise que a indústria fonográfica internacional enfrenta devido à pirataria de CDs e a facilidade de fazer downloads de canções na internet. Esses artistas simplesmente não se importam em ter suas músicas copiadas e vendidas por quem quer que seja. Isso lhes garante popularidade, que reverte em dinheiro nos shows que realizam.

Talvez seja hora de lembrarmos que, embora os índios tenham se encantado com os badulaques dos descobridores, os portugueses também aprenderam muito com os tupiniquins: o saudável hábito do banho diário, o preparo de alimentos como a mandioca, o conhecimento de plantas medicinais. Desde 1500, olhar para dentro do Brasil já era um bom negócio.

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