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Uma das características psicológicas mais marcantes do ser humano é a negação, a insistência em não admitir fatos inconvenientes que a realidade persiste em mostrar serem verdadeiros. Situações-limite, tais como os desastres naturais no litoral paranaense e a iminente tragédia nuclear no Japão, têm o poder de desnudar aquilo que se nega com veemência. Mas, passado o calor dos acontecimentos, o homem tende a voltar a negar o óbvio. E a sofrer as consequências de sua miopia.

Miopia, por exemplo, para enxergar a clara relação entre o desrespeito à legislação ambiental e catástrofes como as que causaram destruição no litoral do Paraná nos últimos dias e as que arrasaram a região serrana do Rio de Janeiro, há dois meses. Se não houvesse ocupação humana em áreas de risco, a possibilidade de perdas humanas e materiais seria reduzida fortemente. E talvez a própria natureza não fosse tão violenta, já que alterações do homem em pontos frágeis do meio ambiente intensificam esse tipo de desastre.

Essas conclusões são evidentes para a Ciência já há muito tempo. E tiveram impacto na elaboração da legislação. O atual Código Florestal, de 1965, determina que encostas de morros e margens de rios não sejam ocupadas. É uma medida preventiva. Mas a lei é amplamente negada e desrespeitada nos quatro cantos do país.

É esse mesmo Código que deputados e senadores vêm tentando flexibilizar. O principal argumento é de que a lei "engessa" o agronegócio. Os defensores de uma nova legislação, menos restritiva, deveriam ao menos considerar a hipótese – e não negá-la – de que o desrespeito do homem ao meio ambiente possa estar, ainda que indiretamente, na origem de prejuízos econômicos do setor rural. Tal como o provocado pelas quedas de barreiras e de pontes nas rodovias que levam ao litoral paranaense – um fato, aliás, que efetivamente engessou temporariamente o agronegócio, impedido de exportar a produção pelo Porto de Paranaguá.

Deixando o Paraná e indo para o Japão, temos mais dois exemplos de negação humana contrariada pelos acontecimentos. Um deles revela interesses econômicos; o outro expõe a triste condição humana.

O primeiro é caracterizado pelo discurso de que a energia atômica é limpa, negando seus riscos – um mantra conveniente para a indústria do setor. As usinas nucleares, de fato, não emitem gases causadores do aquecimento global. Mas estão longe de serem limpas. Ou a possível contaminação radioativa da população japonesa não conta?

Por fim, o risco de uma tragédia nuclear no Japão expõe a irremediável insignificância do homem diante do universo – algo que se tenta negar diariamente. Os japoneses desenvolveram sofisticados sistemas para impedir que terremotos e tsunamis provocassem um acidente nas usinas. Mas a natureza mostrou mais uma vez que é maior que o engenho humano.

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