Há um quê de Dunga em grande parte das autoridades do país. A grosseria com que o técnico trata a imprensa é típica de alguém que não aceita ser criticado – embora ele dirija uma das principais instituições nacionais e, naturalmente, esteja sujeito a questionamentos e a prestar informações aos torcedores do escrete canarinho. De certa forma, o comportamento do treinador é sintoma de um autoritarismo atávico que se manifesta numa parcela dos brasileiros, marcantemente naqueles que têm funções públicas.

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Tal qual Dunga, um sem-número de políticos do país também tem ojeriza a críticas. E, diante delas, tanto o técnico quanto parte de governantes e parlamentares demonizam os veículos de comunicação. Dizem que os jornalistas cometem erros demais, que mentem, que trabalham contra o país. Mas, no fundo de suas cabeças, eles pensam mesmo que imprensa boa é a que só divulga notícias positivas e elogios.

Diante das reações de Dunga, é possível inferir que ele crê que apontar falhas e questionar a seleção no meio de uma Copa é um ato de lesa-pátria. Políticos também vivem reclamando que os jornais prestam um desserviço à sociedade ao não informar o que de bom acontece nas suas administrações. O presidente Lula faz isso volta e meia. O ex-governador Roberto Requião era mestre nesse tipo de discurso. E, recentemente, o presidente da Assembleia do Paraná, Nelson Justus, teceu um rosário de lamentações contra a imprensa – segundo ele, a mídia não divulga os avanços do Legislativo estadual.

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Diante da "ameaça" representada pelos jornalistas, Dunga "fechou" a seleção. Faz treinos secretos. Restringe ao mínimo exigido pela Fifa as entrevistas dos jogadores. Grande parte dos políticos faz o mesmo no trato com a "ameaçadora" imprensa: esconde o jogo – ou melhor, informações que teriam de ser públicas. É a velha máxima de Ricupero: o que é ruim a gente esconde; o que é bom a gente fatura.

A guerra deflagrada por homens públicos contra a imprensa na verdade demonstra uma cultura cívica defeituosa. É uma rebelião contra o princípio de que a sociedade tem o direito de saber o que se passa em suas instituições – sejam elas políticas ou esportivas. É a recusa em aceitar a liberdade de expressão – um dos pilares das democracias mais avançadas.

Como qualquer liberdade, a de imprensa pode ser usada de forma correta ou errada. Obviamente há jornalistas que erram e que exageram. Existem veículos de comunicação tendenciosos. E há ainda a imprensa chapa-branca, que é só elogios. Discernir entre todos esses tipos de mídia é algo que cabe ao público. Aos veículos sobra o ônus de perder credibilidade de seus leitores/telespectadores ou de responder na Justiça nos casos de erro ou má-fé.

PS: para aqueles que acham que Dunga está correto em instalar um regime de quartel nesta Copa do Mundo, vale lembrar que o Brasil já conquistou títulos de forma bem aberta à imprensa. Em 2002, por exemplo, a seleção ficou em um hotel onde estavam hospedadas outras pessoas, inclusive jornalistas, que tinham acesso aos jogadores.

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