O término da Copa da África do Sul levou a imprensa a fazer uma série de análises do legado deixado pela competição ao país: infraestrutura melhorada, transportes mais eficientes, estádios que poderão se transformar em elefantes brancos. Mas pouco se falou daquilo que é intangível: a imagem que o mundo tem hoje dos sul-africanos nunca mais será a mesma. Está muito mais próxima da realidade.
Quem imaginava, por exemplo, que no tropical continente africano fazia frio intenso no inverno? Quem não pensou que o Mundial seria uma bagunça generalizada, diante de uma suposta (e preconceituosa) incapacidade de nações em desenvolvimento de organizar grandes eventos?
A competição também catalisou o povo (ou ao menos uma expressiva parcela dele) em torno de uma ideia-força. Os sul-africanos se esforçaram para usar a Copa como mais um elemento para superar o passado de segregação racial, para construir o que eles chamam de "nação do arco-íris" um país onde cidadãos de todas as cores têm vez e que, justamente por causa disso, está se tornando importante no cenário internacional. Simbolicamente, a África do Sul mostrou ao mundo que o continente africano tem jeito caso supere as diferenças étnicas e opte pela democracia.
Em 2006, a Alemanha realizou sua Copa com um projeto simbólico semelhante: unir alemães do Leste e Oeste, separados durante as décadas da Guerra Fria, ao redor da ideia de que há uma única nação germânica. Chineses, há dois anos, realizaram sua Olimpíada com instalações esportivas suntuosas. Eles, diferentemente, não priorizaram o projeto de unir o país. Optaram por mostrar-se ao mundo como uma grande e pujante nação.
Grandes eventos esportivos, com maciça cobertura da mídia internacional, sempre têm um componente simbólico para os países que os sediam. Esse simbolismo se reproduz inevitavelmente na imagem que essas nações passam ao mundo.
O Brasil, que em quatro anos realizará sua Copa, também poderia usar a paixão despertada pelo futebol para ter sua ideia-força, que una o país em torno de algo além da simples realização do campeonato.
Mas, a tão pouco tempo do Mundial verde e amarelo, ainda não se vê nada parecido sendo pensado no país. Que imagem, afinal, o Brasil vai querer passar às outras nações? Vamos reforçar o estereótipo da terra do carnaval, das festas, dos biquínis minúsculos, do samba? Ou surpreenderemos o mundo ao mostrar que somos mais do que isso?
O poder público também precisa saber como usar a autoestima criada pela realização da Copa para engajar os brasileiros em torno de algo maior. Por que não usarmos o Mundial como mote de uma campanha por um trânsito mais respeitoso? Com isso, seríamos mais hospitaleiros aos turistas. Ou ainda: por que não nos preocuparmos em embelezar as cidades-sede deixando de jogar lixo nas ruas, de pixar paredes e monumentos públicos?
Interatividade E você? Que imagem gostaria que o Brasil passasse ao mundo na Copa de 2014?
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