Os curitibanos estão assistindo chocados às notícias de que na periferia da cidade está se formando um Estado paralelo, que decreta toque de recolher à noite e executa cruelmente aqueles que, desavisados ou não, desafiam as ordens dos traficantes. Impossível não associar a brutal chacina de oito moradores do Bolsão Audi-União, no bairro Uberaba, à criminalidade dos morros do Rio de Janeiro.

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Por coincidência do destino, a "carioquização" de Curitiba vem no mesmo momento em que a Olimpíada sopra ares de esperança à capital fluminense. A incomum união das três esferas de poder – governo federal, estadual e prefeitura – em torno de um objetivo comum, a candidatura do Rio para os jogos de 2016, mostrou que o Estado brasileiro pode ser eficiente e vencedor. Obviamente, será preciso usar esse mesmo ímpeto e pragmatismo administrativo para tirar do papel o projeto olímpico – que necessariamente passará pelo imenso desafio da redução da violência.

Mas agora isso será mais fácil. Os cariocas estão enamorados com a repentina revalorização de sua autoestima – mais propensos, portanto, a colaborar com o poder público, que por sua vez demonstrou competência administrativa. Comunidades envolvidas em torno de um projeto comum ou da ideia de bem coletivo são mais fortes e organizadas. Unidas a um Estado responsável, podem enfrentar o poder paralelo do crime de forma mais eficiente.

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Se essa janela da oportunidade for agarrada com unhas e dentes, o Rio diminui os índices de violência e volta a ser a Cidade Maravilhosa. Eles já sabem muito bem disso, e a contagem regressiva para que vençam o crime já começou e tem até data para terminar: 2016.

Já em Curitiba caminhamos no sentido inverso. A cidade já foi modelo para o país em várias á­­reas. Mas prefeitura e governo do estado, por razões políticas, não se conversam e andam muitas vezes para lados opostos. O aumento dos índices de criminalidade na capital paranaense é reflexo disso. Por aqui reinam os esforços descoordenados para o combate da violência e, por vezes, a omissão das autoridades.

A declaração de um morador da Vila Audi-União, na Gazeta do Povo da última segunda-feira, é uma mostra disso: "Nunca vimos a política fazer nada (pela segurança do bairro), a não ser ficar cuidando dos corpos (das vítimas de assassinatos)". Na mesma segunda-feira, a PM que havia "tomado" a vila durante o dia sumiu à noite, segundo relatos de moradores. Não é de estranhar que a cidade esteja vendo o nascimento de um poder paralelo nas franjas do Rio Iguaçu. O aparato de segurança do Estado oficial desapareceu dali.

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