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Fernando Martins

Liberdade, igualdade e fraternidade – 220 anos depois

Os jornais de hoje provavelmente vão estampar de forma tímida, e com o enfoque de acontecimento meramente francês, as solenidades que marcaram ontem o aniversário da queda da Bastilha. De fato, a tomada dessa prisão política pelo povo em armas, em 14 de julho de 1789, tornou-se símbolo da Revolução Francesa e, por isso, é a principal data cívica do país. Mas talvez poucos se lembrem dos tempos de escola, em que se estudava que a data marca exatamente o início de uma nova era para todos os povos.

A Idade Contemporânea nasceu sob a inspiração do lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" e por pressão do republicanismo como ideologia política, da crença na razão como guia do ser humano e do capitalismo como sistema econômico. Mas, 220 anos depois, nem todas as "promessas" do novo tempo se concretizaram por completo.

Se por um lado o republicanismo espalhou-se pelos quatro cantos do planeta e aumentou a participação popular, não foi capaz de impedir o aparecimento de uma nova modalidade de absolutismo que ele prometia enterrar: o totalitarismo, e suas matizes mais atenuadas, como o autoritarismo. Afinal, nunca deixaram de existir nações dirigidas pela vontade de um único grupo ou pessoa – não mais um rei ou uma corte, mas algum ditador ou caudilho que não raramente alega ser um democrata.

Além disso, mesmo sociedades que se constituíram sob a orientação do republicanismo ainda hoje cedem a tentações de controlar a vida das pessoas. Em nome do combate do terrorismo ou da segurança, avança-se sobre o direito de todos irem e virem. A recém-enterrada doutrina Bush é um exemplo disso. Mas não é preciso ir longe para constatar isso: ideias como toque de recolher para retirar das ruas jovens, supostamente "perigosos", fazem grande sucesso na opinião pública. Onde está, então, a liberdade?

Também não se pode dizer que a razão tornou-se o guia maior do ser humano. Superstições, fanatismos e irracionalidades de todas as naturezas estão cada vez mais influentes na esfera política. A própria razão, quando despida da ética e de valores, demonstrou não estar a favor do bem da coletividade. Afinal, a ciência que cura é a mesma que mata. Onde fica então a fraternidade, diante do uso do conhecimento para agredir o próximo?

O capitalismo talvez tenha sido o movimento que impulsionou a Revolução Francesa (e que dela se beneficiou) com as bases mais sólidas após dois séculos e duas décadas da queda da Bastilha. Mesmo assim, uma economia capitalista calcada na "irracionalidade exuberante" dos mercados e sem o controle de uma sociedade efetivamente republicana continua a produzir como resultado a desigualdade social. Não era a igualdade um dos três lemas da Revolução?

Fernando Martins é jornalista.

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