A revista norte-americana Science publicou na semana passada uma pesquisa revelando que há cem vezes mais informação no DNA de uma única célula humana do que em toda a produção intelectual da humanidade contida em livros, CDs, computadores e outros dispositivos de armazenagem de dados.
A notícia, reproduzida na semana passada em jornais do mundo inteiro, não chegou a ter maiores repercussões. A despeito disso, a complexidade do DNA tem profundas implicações existenciais e éticas. Mostra ao mesmo tempo a pequenez e a grandeza do homem um paradoxo que nos torna ainda mais humanos.
Por um lado, a pesquisa deixa evidente o quão insignificantes nós somos diante da natureza. Uma única célula é mais complexa que tudo o que o homem conseguiu pensar e criar em 6 mil anos de história e de cultura letrada. Ler a notícia da Science, portanto, é como comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal e descobrir logo depois nossa nudez e fragilidade.
Costumamos nos autocoroar reis do mundo natural. Agimos como se fôssemos maiores que a natureza, como se a conhecêssemos a fundo. Esquecemo-nos, no entanto, que somos tão somente uma ínfima parte daquilo que pretendemos dominar, um grão de pó na imensidão do universo. A força dos desastres naturais, por exemplo, nos traz de volta à triste condição de seres diminutos.
O reconhecimento da insignificância humana nos impõe ainda a necessidade ética de respeitar o meio ambiente. Se uma única célula contém mais informação que tudo que o intelecto já produziu, permitir a extinção de qualquer espécie animal ou vegetal é como queimar todas as bibliotecas que temos e outras tantas que construiremos no futuro. Incinerar conhecimento, na era da informação que vivemos, é um sacrilégio. Mas é isso que estamos fazendo.
Por outro lado, embora sejamos pequenos diante do mundo, saber que encerramos em nós mesmos tanta riqueza é paradoxalmente motivo de grandeza. Aquilo que temos dentro de nós é infinitamente maior do que tudo o que podemos conhecer ao longo da existência. Jamais leremos todos os livros, ouviremos todas as canções, veremos todos os filmes. E, mesmo que conseguíssemos fazê-lo, ainda assim seríamos nós mesmos muito mais densos do que todo o conhecimento.
A dimensão grandiosa do homem também nos traz exigências morais. Dessa vez, conosco mesmos. Se guardamos tanta riqueza interna, temos a obrigação éticas de nos conhecer melhor. De refletir sobre quem somos e o que fazemos. De reproduzir e honrar em nossas relações sociais e pessoais a grandeza da nossa essência.
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