Políticos de todo o país cumprirão o script oficial durante as comemorações do Sete de Setembro, no próximo sábado. Vão subir em palanques, cantar o Hino Nacional e assistir aos desfiles cívico-militares. Mas à maioria faltará refletir sobre o verdadeiro espírito da independência que moveu os brasileiros a se separarem de Portugal há 191 anos. Esse sentimento estará do outro lado das grades que separam as autoridades do restante da população.

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Nações que se libertam (ou tentam se libertar) da metrópole nutrem uma motivação em comum. O grito do Ipiranga foi uma reação diante da intenção portuguesa de transformar o Brasil novamente numa colônia – algo que havia sido superado com a transferência da família real lusitana para o Rio de Janeiro, em 1808. Antes disso, em 1789, a Inconfidência Mineira havia buscado a independência por causa dos altos tributos cobrados pela Coroa sobre a extração de ouro. Os inconfidentes inspiraram-se na Revolução Americana – quando os colonos dos Estados Unidos se insurgiram contra as elevadas taxas impostas pelos ingleses e decidiram criar um país.

Embora o processo histórico seja diferente em cada nação, há um pano de fundo que une todos os povos que tentam se libertar: a insatisfação com o poder constituído. Uma insatisfação insanável que leva ao ato extremo. Esse é o espírito da independência.

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Apesar de não haver movimentos separatistas relevantes no Brasil de hoje, existe um forte desconforto com a atuação das autoridades. Os protestos de junho, que talvez se repitam nas celebrações da Independência, mostraram que há um abismo entre os poderes constituídos e o povo. Não é algo insanável a ponto de levar a uma ruptura institucional. Mas a semente do descaso com a opinião pública – plantada e irrigada ao longo de muitos anos pelos políticos e cujo último capítulo foi a manutenção do mandato do deputado-presidiário Natan Donadon – tem sido suficiente para acirrar ânimos e levar alguns a cometer atos violentos e de vandalismo.

A percepção de que a população paga muito imposto – um estopim comum a processos de rebelião – também faz parte do atual contexto brasileiro. Embora os serviços públicos sejam deficientes, o país destina 36,27% de suas riquezas para quitar tributos – muito mais do que o quinto (20%) cobrado sobre ouro, fator que deflagrou a Inconfidência.

No plano federativo, o governo federal também se comporta como uma espécie de metrópole arrecadadora. Estudo da Confederação Nacional dos Municípios mostra que, em 2010, a União arrecadou 67,9% do total de tributos cobrados, contra apenas 26,7% dos estados e 5,4% das prefeituras.

Os políticos parecem não ter percebido. Mas estão assoprando a chama que acende o espírito da insatisfação.

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