A internet é como a lua cheia. Brilha intensamente, atrai a atenção, fascina. Mas tem um lado oculto. E essa face escondida não são os crimes cibernéticos ou o anonimato sob o qual tantos se escondem na rede. Esses são como nuvens. Encobrem a beleza da web. Mas são "visíveis"; da existência deles se tem pleno conhecimento.
O que não se vê (ou não se quer ver) é aquilo que torna possível haver tantos serviços on-line que não são cobrados. Inebriados pela gratuidade, os internautas não enxergam ou se esquecem daquilo que torna a rede altamente lucrativa mesmo sendo de graça. E isso é algo que mexe com a vida privada e pública de forma definitiva e potencialmente perigosa.
A web parece ter tornado obsoleta a expressão "não há almoço grátis", popularizada pelo Nobel de Economia Milton Friedman para explicar que sempre alguém paga por algo que é ofertado gratuitamente. Mas as aparências enganam. A máxima de Friedman continua válida. E é reforçada por um adágio que circula na própria internet: "Se você não está pagando por um serviço na rede, então você é o produto".
O modelo de negócios das gigantes da web redes sociais, buscadores de informação e megalojas on-line é baseado na venda de você a anunciantes. Em troca, eles oferecem a gratuidade do serviço ou a facilidade (ainda que cobrem algo por isso).
Ao navegar por sites como Facebook, Google, Amazon, Apple Store, o internauta está tendo monitoradas suas preferências pessoais, ideológicas, de compra, de gostos. O histórico desse comportamento pode ser colocado à venda para outras empresas que queiram fazer propaganda on-line altamente direcionada. Essa monstruosa quantidade de informação pessoal é passível ainda de armazenamento num banco de dados eterno sobre a vida particular e pública de cada usuário da web.
Obviamente, as pessoas são livres para comprar ou não os produtos oferecidos na internet. E podem até gostar de ver ofertas que parecem ter sido feitas exclusivamente para elas. Mas o contrato tácito da troca de dados pessoais e privacidade por serviços gratuitos ou facilidades parece ser absolutamente claro para só uma das partes.
Existe ainda outro risco potencial nesse enorme banco de dados: a possibilidade de que venha a ser usado para perseguição política. Nas democracias, esse temor é baixo. Mas a história é cíclica. Nada garante que um Estado que hoje é democrático não se torne ditatorial no futuro e venha a se apossar das informações. E há casos de gigantes da internet que já se dobraram a regimes de força. O Google, por exemplo, censurava buscas na China. Voltou atrás. Mas, por um período, compactuou com o governo chinês.
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