Festeiro, caloroso, sensual e exótico. Mas desorganizado e pouco sério. Esse é o brasileiro na visão dos estrangeiros. Pode ser um estereótipo injusto. Mas o país caminha a passos largos para reforçá-lo ainda mais durante a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. E essa imagem pode se transformar numa cruz que todos nós teremos de carregar. Um estigma que nos acompanhará não apenas em viagens de turismo ao exterior, mas também quando nossos empresários tentarem fechar negócios lá fora.
O improviso e o atraso têm sido a marca da organização (ou desorganização) da Copa. Faltando pouco menos de mil dias para o começo do Mundial, apenas 4,7% dos projetos programados saíram do papel. A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, admite que as obras podem ficar comprometidas se a apressada lei que flexibilizou as licitações for declarada inconstitucional pelo STF. E o Planalto acaba de enviar um projeto de lei ao Congresso autorizando que seja decretado feriado nas datas dos jogos. É uma forma de evitar que o trânsito caótico de um dia de trabalho atrapalhe a chegada dos torcedores aos estádios, caso os investimentos em transporte público não sejam concluídos a tempo.
A atenção da imprensa internacional pode legar ao mundo a imagem do povo do eterno "jeitinho". Escândalos de desvio de dinheiro envolvendo a realização das competições algo nada improvável também podem carimbar em nossa testa a marca da corrupção.
Talvez a destinação de tantos recursos públicos para a Copa, em detrimento de outras áreas mais prioritárias, não venha nem mesmo a ser a pior herança do Mundial, como muitos acreditam. É possível que o legado mais nocivo seja o reforço do estereótipo do país, a ponto de atrapalhar negócios internacionais das empresas brasileiras e comprometer o desenvolvimento nacional.
Com a Copa, o mundo pode vir a enxergar o Brasil como um destino turístico diferente e alegre. Mas a pecha de falta de seriedade pode ser deletéria para a confiança de consumidores e investidores internacionais no país. Seremos vistos como bons anfitriões para festas, mas pouco sérios no trabalho.
Numa economia globalizada, a credibilidade é um atributo essencial a uma nação. E, para isso, a imagem é fundamental. Os gregos festeiros e calorosos como nós promoveram a Olimpíada de 2004, também marcada pelo atraso nas obras. Tudo deu certo nos dias de competição. Mas a crença na capacidade de a Grécia cumprir compromissos foi arranhada. Não é exagero supor que haja uma ligação, mesmo que tênue, entre o que ocorreu há sete anos e a atual crise de confiança no país, hoje assolado pelo fantasma do calote.
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