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A escola ensina; os pais educam. O velho ditado popular pressupõe que a família tem de estar no centro de qualquer discussão sobre melhorias na educação. Mas não é o que ocorre atualmente.

A divulgação dos resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), na segunda-feira, reforçou a percepção de que o ensino público está a quilômetros de distância da educação particular e de que o Estado não cumpre suas funções. Isso é verdade. Mas essa é apenas uma das faces dos desafios da educação. A disparidade das notas do Enem também é um forte indicativo de um problema que não costuma ser discutido: as deficiências dos pais em cumprir seu papel no estímulo da aprendizagem dos filhos.

A relação da família com as notas tiradas pelos filhos na escola é descrita em inúmeros estudos. Numa recente pesquisa patrocinada pela Fundação Itaú Social, a consultora Fabiana Felicio conseguiu estimar que apenas 30% do desempenho do aluno se deve à escola. Os 70% restantes são influência do ambiente familiar. Entram como fatores o nível de escolaridade e de renda dos pais, o acesso a bens culturais proporcionado às crianças, a atenção dispensada aos filhos nas lições de casa etc.

É preciso destacar que os 30% da escola não são pouco. Uma variação de desempenho nessa proporção é suficiente, por exemplo, para impedir que um estudante entre em uma universidade pública. Portanto, os dados da pesquisa não dão salvo-conduto para o Estado descuidar do ensino.

Mas a revelação de que 70% do desempenho escolar é fruto do ambiente familiar indica que talvez nem mesmo investimentos pesados no ensino público possam reverter a imensa desigualdade educacional do país se o outro lado da questão – os problemas da família – não for abordado adequadamente.

Ao contrário do ensino, que ao menos ocupa a agenda de discussões públicas, as políticas voltadas à estruturação das famílias quase não têm atenção. Pro­vavelmente a timidez em discutir o assunto seja resultado do receio – que tem sua razão de ser – de o Estado se intrometer na esfera privada.

Por outro lado, a ação governamental pode sim criar condições, sem interferir em assuntos particulares, para que o ambiente familiar seja mais propício a estimular as crianças para o estudo.

Os desafios, porém, são enormes. A escola pública deve se preparar para assumir parte do papel dos pais? Como proporcionar que pais de famílias menos favorecidas tenham mais tempo com os filhos, diante de jornadas de trabalho longas e de um transporte público deficiente? É viável que adultos com pouco estudo voltem à sala de aula? Como democratizar o acesso a bens culturais? São perguntas que precisam ser respondidas pela sociedade.

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