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Fernando Martins

Pobre Iguaçu

Atribui-se à primeira-dama norte-americana Eleanor Roosevelt (1884-1962) a exclamação "Poor Niagara!" (Pobre Niágara!) ao comparar a mais famosa queda d’água dos Estados Unidos com a grandiosidade e beleza das Cataratas do Iguaçu. Se a senhora Roosevelt pudesse ser transportada no tempo e levada hoje ao início do rio, nos arredores de Curitiba, talvez dissesse, decepcionada: "Pobre Iguaçu!"

Não é de hoje que se sabe que o mais paranaense de todos os rios está quase morto na região metropolitana, vitimado pela poluição. As investigações da Polícia Federal a respeito do lançamento de esgoto in natura no Iguaçu apenas retomam um antigo diagnóstico: embora ainda chegue majestoso à sua foz, o rio está enfermo na Grande Curitiba. Como sempre, falta enfrentar a doença. Essa é uma demanda que não parece seduzir as autoridades públicas – muito em função da própria sociedade moderna, de onde saem os eleitores que lhes garantem a sobrevivência. Urbanizado, o cidadão contemporâneo só costuma se lembrar da existência dos cursos d’água de forma efêmera: quando as torneiras secam devido a alguma estiagem ou quando o mau odor dos riachos poluídos atrapalha o bem-estar de quem passa por eles.

É preciso, no entanto, reconhecer que a relação da humanidade com as bacias hidrográficas é de dependência absoluta. A própria civilização nasceu em função delas. Sem o provimento de água dos grandes rios perenes – como o Eufrates, o Tigre, o Nilo, o Tibre, o Tejo –, não seria possível desenvolver a agricultura. Consequentemente, não se abasteceriam as cidades nas quais nasceu a escrita e onde floresceram os grandes povos. O homem continuaria migrando de paragem em paragem em busca de comida e para saciar a sede. E não teríamos nem sequer a História.

Cuidar das bacias hidrográficas é, portanto, preservar o próprio modo de vida que hoje parece ser natural – mas que não é. Essa constatação não é nada nova. Mas é incapaz de assegurar a conservação ambiental. Talvez simplesmente porque esse argumento seja eminentemente racional. Quem sabe o respeito aos rios só virá quando o homem moderno desenvolver uma relação afetiva com eles.

Com o Iguaçu não parece ser difícil chegar lá. Há motivos práticos e simbólicos para convencer os paranaenses que eles lhe devem muito. O rio dá nome ao palácio-sede do governo paranaense – o que exigiria respeito das autoridades. Tem história: foi uma das principais vias de escoamento da produção de erva-mate, a primeira grande riqueza do estado. Garante energia, com suas cinco grandes hidrelétricas. E, é claro, presenteia a humanidade com uma de suas maravilhas: as cataratas.

O Iguaçu está pobre, afinal, porque dá muito ao Paraná sem pedir nada de volta. Está na hora da retribuição.

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