Na semana passada, relatei em minha coluna uma linha de pesquisa relativamente recente que põe em dúvida se o nome de Curitiba, em tupi-guarani, quer mesmo dizer "terra dos pinheirais". Tradicionalmente, considera-se que a origem da denominação da capital seriam os termos indígenas "curiy" ("pinhão", em português) e "tiba", a palavra indígena para "muito".
Em linhas gerais, os pesquisadores que defendem essa nova interpretação afirmam que, durante séculos, a denominação da capital teve dupla grafia aceita e amplamente usada: Curitiba e Coritiba. E o termo Coritiba teria origem na palavra indígena "coré" "porco", em português. Assim, o nome indígena da capital poderia expressar a suposta abundância de porcos-do-mato na região e não exatamente os extensos pinheirais que aqui existiam na época da fundação da capital.
Após a publicação do texto, recebi um e-mail do pesquisador Fernando Straube contestando essa linha de argumentação e reafirmando que, como manda a tradição, Curitiba é a terra dos pinhões. A pesquisa dele merece registro, pois traz novos elementos à discussão sobre a origem do nome da cidade, que completou 316 anos no último domingo.
Straube alega que, como os índios não conheciam a escrita, os colonizadores brancos grafavam as palavras ditas pelos indígenas da forma como entendiam. Assim, seria natural haver diferenças de grafia. Aliás, as letras "o" e "u" têm som similar e poderiam muito bem ser confundidas pelos primeiros colonizadores do Paraná, resultando na dupla grafia do nome da cidade que só foi extinta por uma resolução da Câmara Municipal em 1919. As duas variantes da denominação da capital, portanto, seriam obra dos portugueses e não dos índios, que designavam a região por suas características físicas: a existência dos pinheirais, segundo o pesquisador.
Mas o ponto central da tese de Straube é o argumento de que a palavra indígena "coré" (ou kuré) não era usada pelos indígenas para designar os porcos-do-mato, mas sim os porcos domésticos, introduzidos nas Américas pelo homem branco. Os animais nativos teriam originalmente outros nomes indígenas, tais como taiaçu ou caitetu. Desse modo, não faria sentido que a região de Curitiba, que apenas começava a ser colonizada, estivesse "infestada" de suínos domésticos a ponto de justificar a denominação de uma região inteira.
Para quem tem interesse pelo tema, a tese completa de Straube foi publicada em 2000, sob o título Dois ensaios sobre a etimologia do topônimo Curitiba, no volume 51 do Boletim do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.
Fernando Martins é jornalista.