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O que você faria se tivesse acabado de comprar um carro zero quilômetro, estacionasse o veículo em frente de sua casa e, logo depois, percebesse que alguém está tentando roubá-lo? Provavelmente tentaria impedir que o veículo fosse levado. Se não conseguisse, obviamente correria, transtornado e indignado, para avisar a polícia na expectativa de que o automóvel fosse recuperado.

O roubo de um carro é uma das experiências pelas quais ninguém quer passar. Mas, sem saber, milhares de brasileiros perdem o equivalente a um automóvel ao longo de suas vidas, dinheiro levado pela corrupção no poder público.

Em 2006, o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) divulgou um levantamento mostrando que 32% dos impostos arrecadados no país são consumidos por corruptos. Ou seja: um em cada três reais que nós pagamos de tributos não chega ao destino que se espera.

Alguém que tenha um rendimento médio de R$ 3 mil mensais, por exemplo, vai ter descontado um total de R$ 80,2 mil de Imposto de Renda (IR) ao longo de seus 35 anos de contribuição, antes de se aposentar. Levando em conta o estudo do IBPT, podemos concluir que R$ 25,6 mil serão desviados por corruptos e não se transformarão em serviços ou obras públicas que irão beneficiar a sociedade. Com esse dinheiro, daria para comprar um carro popular zero quilômetro. Esse é o preço da corrupção. E tudo isso considerando só o IR – que é apenas um dos muitos tributos que temos de pagar.

Para evitar o roubo do veículo ou ao menos minorar a perda de um carro, a população tem alternativas: instalar alarmes, evitar deixar o automóvel estacionado na rua ou contratar um seguro antifurto. Contra a corrupção há menos opções. O melhor seguro anticorrupção ao alcance de todos ainda é o voto.

Mas votar conscientemente é algo que poucos efetivamente fazem, pois exige perda de tempo no acompanhamento do comportamento dos políticos nos quais votamos. O atual momento, particularmente, será rico para esse tipo de observação. Alguns deputados e senadores estão montando um grupo para discutir medidas para combater a corrupção. Será que seu deputado ou senador faz parte dele? Se não faz, você sabe por quê?

Há dez anos, buscar respostas a essas perguntas para avaliar o desempenho de seu representante era muito mais difícil do que hoje. Atualmente, todos os parlamentares têm e-mail. Basta acessar a página da Câmara ou do Senado para descobrir o endereço eletrônico e mandar sua mensagem. A resposta que ele der (ou eventualmente não der) ao seu e-mail será um bom indicativo de como ele trata seus eleitores.

Abrir mão de fazer essa cobrança e acompanhamento ao longo de quatro anos é como deixar de fazer o seguro do carro – mesmo tendo certeza que, mais cedo ou mais tarde, algum ladrão irá levá-lo.

Fernando Martins é jornalista.

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