A reabertura do Mineirão, estádio de Belo Horizonte reformado para a Copa do Mundo, foi caótica: trânsito confuso no entorno, lanchonetes fechadas, falta de água nos bebedouros e, como costuma ocorrer nesse tipo de situação, banheiros sujos. Sanitários em condições inadequadas costumam ser o primeiro sintoma de má gestão de um espaço de uso coletivo. Por vezes, nada mais parece estar errado naquele local. Mas um banheiro inexistente, mal-dimensionado ou sem limpeza é um alerta de negligência e de falhas de administração. Isso vale para estádios, empresas, escolas, universidades, repartições públicas, casas noturnas, áreas de lazer.

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Todo ser humano tem necessidades fisiológicas. A civilização levou milênios para inventar o sanitário e, assim, garantir privacidade nesse momento socialmente embaraçoso. Ofertar bons banheiros, portanto, é importar-se com a dignidade do outro – de seu cliente, de seus funcionários, de seus eleitores.

Por outro lado, um WC inexistente, em más condições ou subdimensionado indica que o outro não é uma preocupação central do responsável pelo espaço. Nesse sentido, a ausência de banheiros públicos nas cidades brasileiras é reveladora do descaso do Estado com o cidadão, algo que se revela de forma mais contundente nas deficiências de outros serviços.

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Deve-se ponderar, contudo, que há gestores públicos e privados que se importam com as pessoas. Mas que, ainda assim, não conseguem sanar eventuais deficiências nos banheiros que administram. Nesse caso, trata-se de uma questão de incapacidade gerencial. Não conseguir prever quando o sanitário precisa receber novos rolos de papel higiênico, por exemplo, revela de forma inequívoca um desconhecimento de regras básicas de estoque e reposição.

Esses dois fatores – descaso deliberado em relação ao outro ou simples deficiência administrativa – são potenciais causadores de problemas. Muitas vezes graves. E um banheiro sujo pode ser o primeiro alerta.

Quem já frequentou casas noturnas e bares sabe que uma expressiva parcela desses estabelecimentos não consegue manter os sanitários limpos durante a noite toda. Normalmente, há muitos frequentadores e poucos banheiros. E a manutenção é insuficiente para deixá-los higiênicos. É possível supor que essa mesma desatenção seja estendida à segurança dos clientes – algo corriqueiro, como demonstra o recente fechamento de dezenas de casas noturnas ao redor do país após a tragédia da boate Kiss, de Santa Maria (RS).

Talvez seja necessário dar mais atenção aos banheiros. Ao conhecê-los, de certa forma são desvendadas as entranhas de uma instituição.

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