Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Francisco Camargo

Aquarelas marinhas. Carpe diem

"A janela aberta para aquela paisagem marinha mais parece um quadro pintado na parede. No céu escurecendo, as estrelas rebrilham de luzes salpicadas, ampliadas no éter sem nuvens e sem poluição alguma."

Estamos na Ilha de Superagui. Por obra e graça de Reinoldo Atem. Cada um descobre o paraíso que procura – e que merece. O poeta e amigo, ou amigo e poeta (a ordem não altera o produto), parece ter encontrado o seu.

Reinoldo está de volta à prosa com o livro Aquarelas Marinhas – A ilha de Superagui e suas histórias, com fotos de Reinar Dal’Molin, lançamento da Arte & Textos.

E lá vamos nós, compartilhar a vida com pessoas como Nelinho, Magal, Aroldo, seu Antônio Arcanjo Magno, Toninho, "o irmão do Zeco", aquele mesmo da Pousada Crepúsculo, Márcia, Radival e Clodoaldo, mestre Romão, o do "barreado afamado", Jesiane, a cabocla de "olhos grandes curiosos", mulher do Jacó, Maria, irmã do Rubens, filha de seu Antônio, única mulher pescadora, a chamada Maria-Pescadora, e o dono do Bar Laurentino. Conhecemos e descobrimos coisas e mais coisas. Tem o fandango caprichado do mestre fandangueiro Alcides Ribeiro e do mestre violeiro José Skinini, mais a cachaça com cataia, "uma planta que só nasce na Barra do Ararapira". Pegando o rumo do Canal do Varadouro, ao pé da Serra do Mar encontramos o povoado Saco-do-Morro. No caminho tem o cemitério da Canelinha, onde, dizem, "se morre duas vezes, porque, quando a maré enche, encobre toda a região e mata os defuntos afogados".

Mas, enquanto não chega a hora da primeira partida de pés juntos para o cemitério da Canelinha, alimenta-se o corpo e a alma com peixes parati, badejos, ostras, cações, dourados, pescadinhas, robalos, corvinas e tainhas, diante da desconcertante dança de pássaros os mais variados e golfinhos cinzentos.

"A imensidão se faz presente em nós, você sente a sensação da vida eterna, parece que finalmente Deus existe e você foi contemplado por ele", escreve Reinoldo.

Conta ainda que, por volta de 1850, a ilha chegou a ser comprada pelo cônsul -geral da Suíça em São Paulo, para projetos de colonização. Foi assim que começou o povoamento. Vieram italianos, franceses, alemães. Para quem vinha do Sul, pelo mar, era o primeiro pedaço de terra paranaense a quebrar a linha do horizonte.

Superagui continua abrigando uma vila de pescadores, mas os tempos mudaram. "A pesca artesanal enfrenta a concorrência das traineiras profissionais de fora, que lhes tiram o pescado, sem qualquer preocupação dos poderes públicos com a saúde e a sobrevivência daquela população afável e carente, gente do mar, ao sabor da maresia cheirosa e acolhedora, o vai-e-vem das marés, mais os golfinhos que acompanham a movimentação dos barcos e as conversas de balcão de bar entre os pescadores."

A região virou Parque Nacional em 1989, englobando a quase totalidade da Ilha do Superagui, Ilha do Pinheiro e Ilha das Peças. Em 1999, foi declarada Patrimônio Natural da Humanidade, pela Unesco.

Vale a pena navegar por essas aquarelas marinhas. A propósito: sobre o poeta, olha o que eu encontrei na coletânea Carpe Diem – Poemas.

Super-heróis

A mulher-gato

vem nos salvar

nesse nosso dia

insuportável?

O homem-aranha

vem nos redimir

quando tentamos

coisas irremediáveis?

Não.

Apenas um gato e

uma aranha

surgem rasteiros

no meu telhado

no meu telhado cheio

de goteiras

cheio de passados

que não se importam

se estão

do meu agrado

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.