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"A janela aberta para aquela paisagem marinha mais parece um quadro pintado na parede. No céu escurecendo, as estrelas rebrilham de luzes salpicadas, ampliadas no éter sem nuvens e sem poluição alguma."

Estamos na Ilha de Superagui. Por obra e graça de Reinoldo Atem. Cada um descobre o paraíso que procura – e que merece. O poeta e amigo, ou amigo e poeta (a ordem não altera o produto), parece ter encontrado o seu.

Reinoldo está de volta à prosa com o livro Aquarelas Marinhas – A ilha de Superagui e suas histórias, com fotos de Reinar Dal’Molin, lançamento da Arte & Textos.

E lá vamos nós, compartilhar a vida com pessoas como Nelinho, Magal, Aroldo, seu Antônio Arcanjo Magno, Toninho, "o irmão do Zeco", aquele mesmo da Pousada Crepúsculo, Márcia, Radival e Clodoaldo, mestre Romão, o do "barreado afamado", Jesiane, a cabocla de "olhos grandes curiosos", mulher do Jacó, Maria, irmã do Rubens, filha de seu Antônio, única mulher pescadora, a chamada Maria-Pescadora, e o dono do Bar Laurentino. Conhecemos e descobrimos coisas e mais coisas. Tem o fandango caprichado do mestre fandangueiro Alcides Ribeiro e do mestre violeiro José Skinini, mais a cachaça com cataia, "uma planta que só nasce na Barra do Ararapira". Pegando o rumo do Canal do Varadouro, ao pé da Serra do Mar encontramos o povoado Saco-do-Morro. No caminho tem o cemitério da Canelinha, onde, dizem, "se morre duas vezes, porque, quando a maré enche, encobre toda a região e mata os defuntos afogados".

Mas, enquanto não chega a hora da primeira partida de pés juntos para o cemitério da Canelinha, alimenta-se o corpo e a alma com peixes parati, badejos, ostras, cações, dourados, pescadinhas, robalos, corvinas e tainhas, diante da desconcertante dança de pássaros os mais variados e golfinhos cinzentos.

"A imensidão se faz presente em nós, você sente a sensação da vida eterna, parece que finalmente Deus existe e você foi contemplado por ele", escreve Reinoldo.

Conta ainda que, por volta de 1850, a ilha chegou a ser comprada pelo cônsul -geral da Suíça em São Paulo, para projetos de colonização. Foi assim que começou o povoamento. Vieram italianos, franceses, alemães. Para quem vinha do Sul, pelo mar, era o primeiro pedaço de terra paranaense a quebrar a linha do horizonte.

Superagui continua abrigando uma vila de pescadores, mas os tempos mudaram. "A pesca artesanal enfrenta a concorrência das traineiras profissionais de fora, que lhes tiram o pescado, sem qualquer preocupação dos poderes públicos com a saúde e a sobrevivência daquela população afável e carente, gente do mar, ao sabor da maresia cheirosa e acolhedora, o vai-e-vem das marés, mais os golfinhos que acompanham a movimentação dos barcos e as conversas de balcão de bar entre os pescadores."

A região virou Parque Nacional em 1989, englobando a quase totalidade da Ilha do Superagui, Ilha do Pinheiro e Ilha das Peças. Em 1999, foi declarada Patrimônio Natural da Humanidade, pela Unesco.

Vale a pena navegar por essas aquarelas marinhas. A propósito: sobre o poeta, olha o que eu encontrei na coletânea Carpe Diem – Poemas.

Super-heróis

A mulher-gato

vem nos salvar

nesse nosso dia

insuportável?

O homem-aranha

vem nos redimir

quando tentamos

coisas irremediáveis?

Não.

Apenas um gato e

uma aranha

surgem rasteiros

no meu telhado

no meu telhado cheio

de goteiras

cheio de passados

que não se importam

se estão

do meu agrado

camargo@gazetadopovo.com.br

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