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Francisco Camargo

Caso ele venha a ser eleito...

"Se eu for eleito, prometo solenemente..."

Calma, calma, Beronha não é candidato a vereador, deputado estadual e muito menos a federal. Apenas treina, diante de um espelho, um suposto discurso para uma improvável candidatura a síndico. Natureza Morta explica o que se passou com o nosso anti-herói.

Depois de estacionar a heroica Brasília na garagem subterrânea do condomínio onde mora, em bairro de alto padrão (sic), tomava rumo ao elevador quando – vroommmp! – quase foi atropelado por uma caminhonete tipo último tipo que passou feito um foguete pelo estreito corredor, até entrar na vaga, cantando pneu.

– Hilux ou Tucson?

– Não deu pra ver... Suspeito, porém, que o piloto era uma loira e dirigia de bota. Isso mesmo, bota. A bota afunda o pé no acelerador e mantém ele paradão lá. Coisa que o Rubinho ainda não aprendeu.

– É reflexo do trânsito externo. Dirigir hoje em Curitiba é mais arriscado do que entrar no Caneco de Sangue. Caneco de Sangue era o mais autêntico bar dos bandidos que já existiu na capital. Ficava numa esquina da Visconde de Guarapuava. Mas, voltando ao perigo em epígrafe, parece que foi revogado por completo o Código de Trânsito.

– Tem gente que não respeita nem as rampas de acesso de cadeirantes às calçadas. Estaciona em cima.

Sinal vermelho? Ainda existe, mas esqueceram o motivo. Faixa de pedestre? Atalho para a funerária. Policiamento preventivo? Restou uma vaga lembrança. A esquizofrenia assumiu o volante. Seria a tal desobediência civil?

E a doideira extrapola, pula muros e cercas eletrificadas, invadindo condomínios. Logo teremos anúncios tipo "troco de mano garagem de prédio de luxo com BMW dentro por qualquer choupana na praia".

– Mas, se o caos é inevitável, só nos resta normatizá-lo, conclui Beronha.

Daí a plataforma beronhística caso decida virar síndico.

– Trocar a placa de sinalização de 10 km por uma de 100 km/h.

– Implantar do rodízio de placas, como em São Paulo.

– Substituir os portões eletrônicos por cancelas de passagem de nível, com direito a mata-burro, farolzão pisca-pisca vermelho de alerta e campainha.

– Requerer ao comando do bravo Corpo de Bombeiros uma unidade do Siate para plantão permanente.

– Liberar o uso da buzina, sem restrições.

– Limitar carga e descarga ao período de alta madrugada.

– Colocar rotatórias e lombadas no pátio de acesso às garagens e sinaleiro na saída das ditas cujas.

– Proibir a passagem de pedestres pelas áreas internas até que sejam construídas pelo menos cinco passarelas estilo BR-376.

– Construir heliporto para quem tiver condições de bancar voos até o trabalho. Balão dirigível incluso.

– Teste de bafômetro na entrada e na saída das garagens.

– Liberar o uso do difusor da F1.

– Dez chibatadas em quem infringir as normas internas, punição que terá como pelourinho o salão de festas, com a prévia convocação dos condôminos (é necessário estar em dia com o pagamento do condomínio) e vizinhos, dentro do prazo regimental.

Cumpra-se.

Ass.

B.

Francisco Camargo é jornalista.

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