Beronha não é propriamente da turma do "hay gobierno? Soy contra", até porque, em matéria de anarquismo e anarquistas, não vai muito longe. Mas está longe de ser o analfabeto político de que falava Bertolt Brecht. Instintivamente, por empirismo, lições da vida e visão coletiva das coisas. Não perde a chance, porém, de sapecar governantes quando necessário. E tem uma pequena cota de elogios com que pode brindar até mesmo adversários políticos.
Vai daí que, embora eleitor e do fã clube do barbudo, aquele que, realmente, é o cara, despachou cumprimentos ao governo de São Paulo, mais precisamente à Imprensa Oficial e ao Arquivo Público. Eles lançaram ontem o livro "Kasato Maru Uma Viagem pela História da Imigração Japonesa". É que no dia 18 de junho, há 101 anos, chegava o navio com a primeira leva de imigrantes ao porto de Santos. Com textos de Célia Sakurai e Jeffrey Lesser, a obra traz, inclusive, a reprodução do ofício enviado pelo cônsul brasileiro no Japão às vésperas da histórica travessia e da lista dos 781 passageiros que embarcaram em Kobe para uma viagem que duraria homéricos 51 dias.
Com documentos preciosos, reproduzidos fielmente na forma e no conteúdo, o livro, com o trabalho dos pesquisadores, é rico em detalhes e curiosidades.
O Arquivo Público oferece a oportunidade de "cotejar as informações desse documento com registros mais bem conhecidos de acolhimento desses migrantes, cumprindo assim sua obrigação de difundir amplamente seu acervo", como destaca o seu coordenador, Carlos de Almeida Prado Bacellar.
Do próprio ofício do cônsul brotam as diferenças a enfrentar. Inclusive quando explica a forma como os japoneses contam a idade: no Japão, "comemora-se um ano no dia em que se nasce. Um ano após o nascimento, portanto, celebram-se dois anos de idade." Outra questão era a indicação do chefe de família, que, no Japão, é sempre o parente mais próximo e mais velho. Assim, pessoas indicadas na coluna destinada ao chefe de família não estavam a bordo.
A propósito da centenária aproximação dos dois povos, Natureza Morta recordou que viveu experiências incríveis ao visitar o Japão. Primeiro, conheceu o jornalista Celso Kinjô. Em Tóquio, nos contatos com o cerimonial do Palácio Imperial, o jornalista - então já um amigo, volta e meia indagava sobre o encontro marcado com o imperador Akihito.
Enquanto isso não acontecia, queria detalhes e mais detalhes do Furacão e da Arena da Baixada. Até que, finalmente, desfez-se o "mistério".
Na cerimônia com o imperador e a imperatirz Michiko, Kinjô fez a solene entrega do presente trazido do outro lado do mundo, uma bandeira do Corinthians.
É tudo verdade verdadeira, professor Jacy Cruz, do Luzitano (Centro Luzitano de Ciências e Letras). E consta que a bandeira permanece no Palácio Imperial, em lugar de destaque, e que o imperador, sempre que pode, quer saber o resultado dos jogos do Coringão.
Francisco Camargo é jornalista