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 | Foto: Daniel Castellano     Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Foto: Daniel Castellano Ilustração: Felipe Lima

Rosenilda Ribeiro, de 30 anos, a Rose, é "pequenininha, do tamanho de um botão..." Tem 94 centímetros, 5 palmos, 37 polegadas. Ao lado dela, mulheres mignons se transformam em Bündchens pernalongas. Guapeca de quintal vira dinossauro do Spielberg. Incrível. Em Curitiba, só perde em estatura para o casal Claudinha Rocha e Douglas Maister, seus colegas de vida minúscula, donos de contadinhos 92,5 e 89,5 centímetros.

Quando menina, na também minúscula Congonhinhas, perto de São Jerônimo da Serra, que é em riba de Ibaiti, Rose se deu conta de que, tirando os prédios, tudo crescia a sua volta – menos ela. Não abriu berreiro na saia da mãe. Lembra apenas que o avô a botou debaixo do braço, trouxe-a para a capital e a colocou nas esquinas para pedir esmolas. Porta-níqueis e bolsos eram escancarados diante da pequerucha de mãos estendidas. Sabia dizer "Deus te abençoe". Tinha 6 anos.

O pai de Edith Piaf fazia parecido: botava-a para cantar nas praças. Mesmo embrutecida pela miséria, Piaf foi descoberta pelos caça-talentos e se tornou a voz da França. La vie en Rose... A Rose de Congonhinhas também foi descoberta. Agentes de proteção à infância flagraram o avô fanfarrão e mandaram a neta para o Lar das Meninas, nas Mercês.

Foram dez anos de internato. Ali, Rose conheceu mal-e-mal as primeiras letras e bacharelou-se na arte de escapulir. Planejou três fugas espetaculares para alguém de seu porte – 26 quilos. Podia cair do meio-fio, ser atirada longe pelo vento do Ligeirinho, estraçalhada por um cachorro bravo. Além do mais, era farejada de longe. "Uma pequetitita assim, alguém viu?" Aos 16 anos, desistiram de capturá-la, deixando-a à mercê dos 25 becos do Parolin, onde vive até hoje. Virou um amuleto da vila, ainda que, como todos os mortais da redondeza, saia vez em quando para catar lixo. A diferença é que o faz em companhia da gurizada – à moda do passo curto.

Rose já teve posição melhor no mercado: distribuía panfletos. Nos Natais, fazia frilas como duende de Papai Noel. Logo vieram as figurações em peças de teatro no Espaço da Criança, em Santa Felicidade. Fez Branca de Neve – por motivos óbvios. O quiproquó é que a garota – que se pelava de medo de não arrumar marido – queria ser mãe. Candidato já tinha – o papeleiro Ademir Cardoso dos Santos, 1,60 metro, poucos estudos, "não conhece dinheiro, mas é do tipo que ajuda em casa e troca fraldas." Resistir, quem há de? Primeiro vieram as fraldas de Leandra, hoje com 8 anos, seguidas das de Rafaela, com 6.

Ambas têm a mesma deficiência da mãe – acondroplasia, um nanismo causado por um mal dos ossos e não por deficiência de hormônios. Além dos poucos centímetros, o trio leva um grande calombo saltado nas costas – uma agonia. "Dóóóói. Sinto como estivesse levando facadas", conta Rose, balançando-se ao pé da cama, um livreto na mão. Acabara de ler para as gurias A Bela e a Fera. São crianças, afinal. Mas dia desses, Leandra chegou em casa de conversê sobre o que gostaria de ser quando crescer. A mãe cortou. "Você nunca vai crescer, minha filha." Silêncio. Cai o pano.

Não há de ser nada. Quando andam juntas, mãe e filhas são as três graças do Parolin. Depois que fazem as unhas no Salão Novo Visual, as vizinhas pedem amiúde o ombro de Rose. Dizem que gostariam de ser pequenas como ela. Fora da vila – idem. Volta e meia, programas de tevê transformam as Ribeiro na "incrível história das anãzinhas". No Centro, ao vê-las na fila do pão distribuído pelas Pias de Santo Antônio, no Bom Jesus, o povão se acotovela para fotografá-las. "Acho que sou mais popular que o Édson Rodrigues", diverte-se Rose, comparando-se ao famoso líder comunitário da favela – um Juvenal Antena da vida real, com 4 mil votos para vereador em 2008. O grandalhão que se cuide.

Logo ali. Apenas quatro quilômetros separam as Ribeiro da Rua Padre Camargo, onde funciona a Unidade de Endocrinologia Infantil do HC. O local é referência em nanismo, chega a atender 28 mil consultas/ano e abriga médicos do quilate de Romolo Sandrini e Luiz Lacerda. Era para lá que as meninas deveriam ter sido encaminhadas logo ao nascer. Há cirurgias a fazer; coletes a usar. Lá, Leandra pode contar para a turma do hospital o que quer ser quando crescer.

José Carlos Fernandes é jornalista.

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