Há muitas formas de se comemorar o aniversário, mas a única delas que eu invejo é a usada pelo Adauto e pelo Hilário. O Adauto comemorou o aniversário dele outro dia. Foi em um bar, um botequim escondido em uma rua de uma quadra só. O convite deixa claro o nível de popularidade do aniversariante. Era uma folha de papel colada na parede externa do boteco e dizia assim: “Aniversário do Adauto, 15 de julho”; em letras menores, “R$ 25, carne e duas cervejas”. O pequeno cartaz até que era bem feito, com vários tamanhos de fontes. Nem fazia menção ao horário de início da festa, o que deve indicar que começaria cedo e terminaria tarde.
O desprendimento do convite é parte do que invejo nessas situações. O Adauto deve ser um sujeito tão conhecido, tão popular, que dispensa sobrenome e convite individual. Avisa que vai ter festa, não tira um tostão do bolso para agradar os convidados e apenas espera, glorioso, pelos abraços.
O Adauto deve ser um sujeito tão conhecido, tão popular, que dispensa sobrenome e convite individual
Não tenho dúvidas de que a festa foi um sucesso. Infelizmente não soube mais detalhes porque não conheço o Adauto nem frequento o bar. Na manhã em que vi o convite colado na parede, me aproximei para ler melhor e notei que os dois homens que estavam lá dentro me olharam com desconfiança. Eu não sou da turma do Adauto e eles sabem disso.
O Hilário talvez ganhe do Adauto na exibição pública de autoconfiança. No aniversário dele, promoveu uma grande festa no quintal. Sabe como fez o convite? Com uma faixa estendida em frente à casa que comunicava: “Festa de aniversário do Hilário”. Registrava o local (“Aqui”), dia e hora. Quem passava pela rua era convidado. Para que procurar os amigos um por um, telefonar, mandar e-mail ou WhatsApp, se você acredita que sua turma é o bairro inteiro? Para que formalizar o convite quando você se acredita tão querido que todos vão querer te abraçar? Entendeu por que eu invejo o Adauto e o Hilário?
Com o Hilário tive chance de falar sobre a festa. Ele é meu vizinho e nos conhecemos há anos. Quando toquei no assunto ele imediatamente replicou: “Apareça, tá?” Era uma daquelas festas em que sempre cabe mais um e isso também é invejável. Nada de cálculos precisos sobre a quantidade de arroz, de carne, de salada; nada de lista de convidados, de estimativa do consumo per capita de bebida; nada de orçamento. Nada de faxina na véspera e de decoração. Estamos falando de outro tipo de festa. Varre-se bem o quintal, empresta-se cadeiras extras dos vizinhos, convoca-se o amigo que é bom churrasqueiro. Comida e bebida são compradas conforme o dinheiro que está no bolso. E tem a faixa, que é o elemento precioso. A faixa que grita ao mundo que o dia de comemorar sua vida está chegando e que quem achar que você merece, que venha te dar um abraço. Que não espere pompa e circunstância nem tacinhas de licor, hors d’ouvre, mesa de doces, DJ, roupa fina, nem nada que se espera das festas convencionais. Que venha por sua causa, feliz por você existir.
Na festa do Hilário tinha também música ao vivo, uma dupla que misturava Sérgio Reis com Roberto Carlos. Coisa fina. Não fui à festa, mas assisti um pouco pela janela e dormi ao som da cantoria e das conversas, que foram até a madrugada.
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Por falar em aniversário, parabéns para minha leitora Mariazinha Simon Fauquemont, que neste domingo completa 90 anos.
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