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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Aplicando um ponto de vista muito pessoal, estou fazendo um corte no noticiário e recolhendo aquilo que não deve ser esquecido do noticiário de 2011, aquilo que indica para onde os ventos estão soprando. Lá vão três recortes de jornal que compartilho com você:

Em São Paulo, a "cidade que não para", moradores de alguns bairros se manifestam para dizer que não querem novos prédios altos. Pedem um limite para a verticalização. O limite atual é definido por lei, mas existe pressão do mercado imobiliário em favor de um abrandamento da regra sob a justificativa de que, caso contrário, os preços subirão e mais paulistanos terão de morar longe dos locais de trabalho. Os moradores, por sua vez, temem o aumento no número de automóveis circulando. Em um prédio baixo há no máximo 20, talvez 30 automóveis nas garagens; em um prédio alto pode haver 50 ou mais.

Em Curitiba, Porto Alegre e São Paulo: um grupo de pessoas se mobiliza toda vez que vê uma chance de reivindicar melhores condições para os ciclistas. Seu movimento se baseia em bicicletadas, que nunca passam despercebidas. Em Porto Alegre, em fevereiro, um motorista atropelou 30 ciclistas da bicicletada do movimento Massa Crítica. Em São Paulo, em novembro, a moçada saiu às ruas de Moema para defender uma ciclofaixa. Dias antes, uma comerciante disse em uma entrevista à tevê: "Onde vou colocar minhas clientes que são milionárias, que andam de carro importado? Você acha que as minhas clientes vão andar de salto alto de bicicleta?"

No Rio: faltam escritórios para atender à demanda das multinacionais que se instalaram na cidade nos últimos anos. Para atendê-las, imóveis antigos do Centro, alguns com quase 100 anos, estão sendo reformados.

O que tem uma coisa a ver com a outra? Tem tudo. O Brasil está passando por uma boa fase na economia, que tira nossas cidades da pasmaceira em que foram mergulhadas por décadas de dificuldades. As cidades vão crescer agora não só na forma de inchaço provocado por populações rurais empobrecidas se transferindo para ocupações irregulares nas periferias dos grandes centros. As cidades brasileiras vão crescer porque há mais pessoas com dinheiro para comprar um imóvel e empresas estrangeiras querendo investir no Brasil.

Está tudo muito bom, tudo muito bem, mas é hora de ligar o alerta vermelho. Vamos deixar de ser ingênuos e achar que é lindo/maravilhoso crescer e se deixar levar pela boa maré. É hora de pensar se queremos um crescimento que nos faça viver melhor ou um crescimento terceiro-mundista, que gera metrópoles inviáveis, irritantes, que oferecem mais problemas que soluções.

Nossas referências internas sobre crescimento urbano não são boas. Nossas metrópoles exibem sua grandeza malcuidada, suas ilhas de prosperidade cercadas por favelas, seu sistema de transporte vergonhoso, como se tudo isso fosse consequência natural da pujança econômica. Não é. Se esse descuido sinaliza alguma coisa é a incompetência das administrações municipais e a alienação dos cidadãos. Só isso.

Essa relativa prosperidade que faz o Brasil sonhar em tirar o pé da lama está mudando a paisagem das cidades brasileiras. Não estou exagerando. Olhe em volta em busca dos sinais: a expansão do comércio, os novos edifícios substituindo casas e predinhos baixos, o trânsito mais pesado. Mas temos que fazer escolhas. Queremos um sistema de transporte baseado no automóvel ou teremos alternativas de qualidade? Queremos deixar nas mãos das construtoras a decisão sobre a cara que terão nossas cidades ou queremos um centro urbano com personalidade e beleza?

Na fase dos protestos e das discussões o clima vai esquentar. Alguns vão se sentir agredidos (como o motorista de Porto Alegre) e outros se irritarão com aquilo que lhes soará como obstáculo ao progresso (como a dona de loja de São Paulo).

Não dá é para achar que tudo se resume em realizar seus sonhos pessoais o mais rápido possível e a qualquer preço temendo que a bonança seja passageira.

Ela pode ser passageira, sim, mas as cidades e seus problemas, esses vão durar.

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