Notícias e gripes se espalham em epidemias. Ambas nascem de uma combinação de fatores mais ou menos acidentais. Algo acontece (o fato; a mutação de um vírus) e afeta algumas pessoas. As pessoas têm contato com outras, que são contaminadas. A contaminação pode seguir dois caminhos: segue um ritmo constante e inofensivo ou ultrapassa o chamado "ponto de virada" e se transforma em epidemia. Tenho muita curiosidade sobre a forma como as notícias se espalham. Quando a princesa Diana morreu, em um sábado de 1997, ouvi a notícia sobre o acidente na CNN por volta das 22h30, minutos após o acontecido, em Paris. A confirmação da morte de Diana saiu mais tarde. Naquela noite falei com duas pessoas uma em Curitiba e outra em São Paulo e ambas sabiam que a princesa tinha morrido. Uma ouviu o burburinho em uma festa e a outra durante um jogo do Coxa no Couto Pereira. Deduzo que nós começamos a lamentar a morte de Diana antes mesmo que os filhos dela fossem comunicados sobre a tragédia.
Estou convencida de que é um exagero atribuir a rapidez com que notícias circulam apenas às tecnologias de comunicação. Tem algum outro elemento fundamental nessa história. Segundo estudos sobre proliferação de notícias, o fundamental é quem espalha a novidade. Pessoas influentes e convincentes têm um poder muito maior de fazer com que uma informação se dissemine. Os populares, aqueles que têm muitos conhecidos, também.
Rastreamentos de epidemias chegaram a conclusões parecidas. Quando os primeiros casos de aids foram identificados, nos anos 70, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) uma espécie de FBI que persegue vírus e bactérias foi atrás de cada caso registrado para entrevistar os doentes. Acabaram concluindo que quase todos estavam ligados direta ou indiretamente a um canadense chamado Gaetan Dugas. Dugas contou que, no período de um ano, havia feito sexo com 250 pessoas diferentes. Isso é contado de forma impressionante no documentário Aids: a explosão global. Dugas não era o responsável pela proliferação da aids nos Estados Unidos, mas pessoas como ele foram importantes para que a doença se espalhasse no ritmo e nos grupos em que se espalhou.
Agora estamos convivendo com duas epidemias: a da gripe e a dos boatos sobre a gripe. Acho até que ambas poderiam ser piores. No caso da boataria, ela não é pior porque faltam pessoas do tipo influente e convincente entre os boateiros. Quem se dá ao trabalho de sentar em frente do computador para escrever aqueles e-mails malucos que relatam que o "amigo do cunhado do meu vizinho disse que o número de mortos é muito maior do que está sendo divulgado" não tem muita credibilidade. Por isso é que os boateiros sempre se referem a um terceiro indivíduo como sendo a fonte da informação. Eles ouviram o galo cantar, não sabem onde, mas acham que é de utilidade pública espalhar a informação.
Não é assim que funciona. Por um lado, a imprensa não pode publicar o que não é comprovado. Por outro, serviços públicos e privados de saúde não conseguem cercear totalmente a circulação de informação. Os alarmistas não contam com informações confiáveis e nem dão a cara para bater, por isso não têm credibilidade suficiente. Aliás, essa é outra curiosidade que tenho: qual a identidade dos alarmistas que se divertem (ou se aliviam) espalhando e-mails assustadores com conspirações que eles próprios inventaram?
Marleth Silva é jornalista.
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