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Esta era para ser uma croniquinha despretensiosa sobre as ameixeiras que, nos últimos dias, vi em quintais curitibanos. Algumas floridas, outras com cachos pesados de frutinhas. Uma tarde, en­­quanto esperava em um consultório, notei que no jardim da clínica havia uma ameixeira. Fui lá rever a árvore de perto para lembrar os detalhes e poder descrevê-los melhor aqui. Precisava de uma sensação tátil ou um saborzinho que me reaproximasse da árvore que fez parte da minha infância e da infância de muitos paranaenses que hoje vivem em apartamentos e casas sem quintais.

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Deu certo. Conferi as folhas lar­­gas, cobertas por uma penugem macia, de um verde muito escuro. Peguei uma ameixa e experimentei. Azeda, como a maioria das que provei na infância: as maduras e do­­­­cinhas estavam no alto e eram de­­voradas pelos passarinhos ou pe­­­­las crianças mais afoitas que se ar­­riscavam a subir nos galhos finos.

Antes de escrever, vou checar uma informação para não escrever besteira para os leitores, que não deixam passar nenhuma despercebida. Quero conferir se a amei­­xeira é árvore nativa do Pa­­ra­­ná. Tenho razões para crer que sim, afinal, vi essas árvores em quin­­tais de vários municípios da par­­te Sul do estado. Ligo para a Em­­brapa de Colombo, onde um técnico muito educado me atende. É o Joel Pen­­teado Junior, que vem logo com a bomba: "Aquela árvore não é uma ameixeira. É uma nespereira".

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Ah! Como assim?

Descrevo a fruta: amarela, caroços marrons. Não é uma ameixa? Não, insiste o técnico. "É uma nêspera. Ameixa é aquela outra, vermelha, mais redonda." O moço está convicto. E diz mais: é uma árvore estrangeira, estrangeiríssima. Bem adaptada, é verdade, mas tão estrangeira quanto o coco. Pois é, o coco também é um imigrante.

Vou ao mercado e compro uma bandeja das frutinhas. Confiro o que diz a etiqueta – "nêspera". Só eu não sabia? Mais uma vez, sou a última a saber de alguma coisa? Será que quando eu dizia às amiguinhas da Escola de Aplicação Doutor Franco Vale, de Imbituva, que brincava de casinha nos galhos da ameixeira elas, secretamente, riam de mim? "Hi, hi, a Marleth, aquela bobinha. Con­­funde nespereira com ameixeira."

Para meu consolo, as pessoas a quem revelei a minha descoberta (que as ameixas amarelas na verdade se chamam nêspera) ficaram surpresas. Senti em alguns um princípio de revolta em relação à informação científica que eu lhes fornecia, vinda diretamente da Embrapa, instituição de reputação ilibada. Um dos meus interlocutores finalizou a conversa dizendo (em tom firme e nervoso): "Me ne­­go a acreditar que a ameixeira não é paranaense!" Outro me diz que, para ele, uma ameixa será sempre uma ameixa. Não estou só em minha ignorância botânica.

Diante de tudo isso, não posso escrever uma crônica sobre a ameixeira, posto que nunca vi uma. O que eu vi e escalei foram nespereiras, árvores forasteiras bem adaptadas ao clima frio de Curitiba e do Sul do Paraná. E já que fui ignorante tanto tempo, serei agora um dos rebeldes que insistem em chamar nêspera de ameixa e sonham em ter uma árvore dessas no quintal de casa, apesar de saber que ela é uma invasora estrangeira.

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