| Foto: Felipe Lima

Dia desses um senhor muito educado se dirigiu a mim na saída de uma livraria:

CARREGANDO :)

– Acho que eu conheço a sua irmã. Me dei conta só de olhar para você, que é a cara dela.

Concordei. Realmente eu e minha irmã somos muito parecidas.

Publicidade

E segue o diálogo:

– E de onde o senhor conhece a minha irmã?

– Lá do nosso bairro, o São Miguel. Somos vizinhos.

São Miguel! Onde fica o São Miguel? Mas contenho o susto.

– Ah, então acho que não é minha irmã. Ela mora no Campina do Siqueira.

Publicidade

– É ela sim – ele insiste. A Marli, casada com o Juarez, que mora no São Miguel.

Não é, não, insisto. E ele rebate, acrescentando mais uma informação para me convencer:

– É a sua irmã, a Marli, casada com o Juarez, que trabalha na Volvo, e que mora no São Miguel. É a sua cara.

Já estou contendo o riso. Ele quer me convencer que tenho uma irmã que se chama Marli a quem eu ignoro. Já estou quase lamentando os Natais e as festas de batizado na casa da Marli a que eu não compareci por não saber que ela existia.

Mas saio pela culatra para não desapontá-lo (aliás, leitor, há quanto tempo você não lia que algo saiu pela culatra?).

Publicidade

A culatra por onde sai foi a seguinte:

– Por favor, diga para a Marli que eu mando um abraço e gostaria muito de conhecê-la, já que ela parece tanto comigo.

Levei na esportiva (e essa expressão, leitor, é do seu tempo?). Quem de nós nunca passou por essa situação em que temos certeza de que conhecemos alguém que não nos conhece? Ou ficamos confusos com a familiaridade que enxergamos no rosto de um desconhecido que não está nem interessado em nos ajudar a resolver o mistério?

Alguém que viu a cena me disse que isso acontece quando uma pessoa demora a reconhecer que está equivocado em uma bobagem qualquer. Contei o caso para minha irmã, aquela que mora no Campina do Siqueira. O marido dela acha que eu devo ir atrás dessa dupla, a Marli e o Juarez. Deve ser um casal simpático. Colegas de trabalho – maliciosos como os colegas de trabalho costumam ser – me dizem que a Marli pode ser uma filha perdida do meu pai. E eu, da minha parte, decido que preciso conhecer melhor o São Miguel.

Publicidade