É silêncio que desejo ao mundo como voto de felicidade no novo ano. Um desejo é só um desejo, mas ganha um pouco de força quando é expressado. Então, eu o expresso. Desejo ao mundo silêncio.
Tenho cá para mim que 90% do que falamos e do que ouvimos é dispensável. Se não dito, não faria falta. Talvez até ficássemos melhor. Não me refiro só às maldades e fofocas que têm poder de incomodar. A maioria de nós não é assim tão fofoqueiro nem tão maldoso. Nosso mal é falar coisas desnecessárias; é dizer inutilidades. Acredito até que a fofoca maldosa nasce mais da vontade de falar qualquer coisa que do desejo de ferir. A maioria dos fofoqueiros são inconsequentes, bobos. Só isso, bobos.
O desnecessário está tomando conta de nós. Vivemos cercados de objetos desnecessários, desejos desnecessários, barulhos desnecessários, informações desnecessárias. Porque vivemos em um mundo de abundância. Até o pobre vive rodeado pela abundância. Ele não tem, mas sabe que existe. A abundância é esfregada na cara do pobre todo dia. O que é um acinte, o que é um perigo.
Abundância de inutilidades é um perigo.
O ruído nos mantém distraídos. Dá a sensação de que estamos envolvidos com algo, que estamos ocupados, que fazemos parte. Parte de que mesmo? Da confusão do mundo. Só isso.
As mídias sociais são o templo do ruído.
Quem nasce e cresce em meio ao ruído do mundo tem medo do silêncio, mas o silêncio não vai nos maltratar. Porque, conforme ele vai ganhando espaço na nossa vida, nós também nos desapegamos do ruído inútil. É concomitante um entra e o outro sai. É um desses casos em que, ao perder, você sai ganhando.
Só no silêncio há chance de pacificar o nosso cérebro. Até o canto gregoriano, até os mantras precisam ser contidos e repetitivos para não estimularem em excesso aquele que deve ser pacificado. O cérebro é um órgão de defesa, atento a tudo para nos proteger, para nos fazer reagir.
Nós reagimos muito, a maioria das vezes inutilmente, desnecessariamente. Melhor procurar o silêncio para economizar nossas reações e energia para as lutas que merecem ser lutadas, para as frases que merecem ser ditas.
Então, meu voto é esse: silêncio.
