De vez em quando penso em sair lá dos confins de Curitiba, onde vivo, e morar perto do Centro. "Perto de tudo", como se diz dos bairros mais centrais. No meu caso, só estou perto de um cemitério, uma pontezinha, um bar que lota por conta das mesas de sinuca e uma capelinha. Mas aí vejo um bosque no caminho para casa ou encontro um jacu perdido no quintal (refiro-me àquele pássaro grande como um peru, nativo aqui da nossa região, e que faz parte do gênero de belo nome Penelope) e acho que é melhor ficar. Ou leio uma reportagem qualquer que me dá mais argumentos para permanecer quieta onde estou, mesmo enfrentando trânsito todo dia para ir trabalhar. A última reportagem dessa leva tinha o tentador título de "21 dicas para se ter uma vida longa".
Claro que quando pensamos em "vida longa" estamos inconscientemente supondo que ela também terá saúde. Ou seja, que viveremos muito e bem. A regra não é essa. Nem nós brasileiros somos tão longevos nem todos os longevos gozam de ótima saúde. Mas persiste a ilusão de que se pode ter as duas coisas e lá vou eu ler as tais dicas.
Uma delas recomenda: more no campo. Segundo o Departamento de Estatísticas do Reino Unido, os britânicos que vivem em uma zona rural chegam à média de 84 anos contra 76 dos habitantes de Manchester, que é uma cidade grande e industrial. E a Escola de Medicina de Tóquio registra que, dentro do mesmo município, vive mais quem está perto de áreas verdes.
Nas "21 dicas para uma vida longa" há conselhos de todo tipo, sempre amparados por pesquisas e porcentagens. Tem conselhos tentadores (troque os doces por chocolate, faça sexo); curiosos (relacione-se bem com sua mãe, faça frequentemente coisas que lhe dão prazer, como jogar xadrez ou passear no shopping); óbvios (não fume); difíceis, pelo menos para mim (aprenda a tocar piano); fáceis para uns e difíceis para outros (evite o pessimismo). E tem aquelas observações científicas cheias de nuances: pessoas casadas vivem mais, porém o casamento beneficia mais a longevidade dos homens que a das mulheres. Ou então: entre os centenários, há um número expressivo de mulheres solteiras e sem filhos; mas quem tem filhos vive mais tempo do que quem não tem.
Olhando a confusão com otimismo (uma das 21 dicas, lembra?), chega-se à conclusão de que há regras e estatísticas suficientes para alegrar quase todo mundo. Exceções difíceis de encaixar são os fumantes e os que comem muito. Para os outros todos parece haver esperança. Até para os jacus quem diria? se eles tiverem a sorte de nascer no Cascatinha.
Marleth Silva é jornalista.
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