Certos fatos nos deixam matutando sobre as coisas que nos cercam. Na semana que passou, em pleno carnaval, presenciamos algo inusitado no Centro da cidade. Um magote de gente estava se reunindo na Praça Osório e se maquiando como figuras funéreas e, ao que tudo indicava, iriam participar de algum folguedo momesco.
O grupo, autointitulado de Zumbis, estava se preparando para um desfile caracterizado como anticarnavalesco. Um bumbo, um pandeiro e uma gaita escocesa começaram a puxar o grupo pela Avenida Luiz Xavier, em direção à Rua XV de Novembro. Aí já estava estranho afinal de contas, todo e qualquer desfile sempre termina na Boca Maldita, aquele estava indo ao contrário.
A multidão lúgubre seguiu pela Rua XV soltando brados e uivos num alarido no mínimo bizarro, dando a impressão de terem apeado da barca de Caronte, numa singular volta do Inferno. Clamores de almas penadas que estariam pagando seus pecados na festa do faz de conta: o carnaval curitibano. O bando desaparece junto com as suas mortalhas e algazarra.
Continuo estático a matutar, não sobre o espetáculo, mas sim sobre aquele caminho percorrido por aquela caravana de mau agouro. Avenida Luiz Xavier, certo tempo João Pessoa, seguida pela Rua XV. Quanta gente já passou, andou, passeou e se reuniu naquele espaço através dos anos? Quantas vezes os seus aspectos foram modificados, desde o tempo em que era um simples caminho de terra batida?
Barro na chuva, poeira no tempo seco. Calçadas de madeira, substituídas por matacões de pedras conhecidos como pés de moleque. Conforme passavam os anos, as melhorias foram acontecendo e o erário pagando. Gente a pé, a cavalo, de carroça, de carruagem, de bonde, de ônibus, de bicicleta, motocicleta e automóvel. Gaiotas de cargas, leiteiros, padeiros, lenheiros, entregadores de bebidas e gelo. Um mundaréu de povo passou por ali. Gente apressada, gente sem ter o que fazer. Quanta cuspida ali foi dada pelos séculos da sua existência.
A Rua Quinze de Novembro, a alma de Curitiba, nunca parou de ser mexida. A sua superfície era sempre tratada e enfeitada como um tapete persa bordado de filigranas. Em baixo do tapete foram escondidos os entulhos. As imundices do Rio do Ivo, o esgoto pluvial desvirtuado pelo fecal, os bafejos dos miasmas aflorados nas bocas de lobo. Lar de ratazanas e criame de baratas. Caro leitor, é por cima disso que passamos quando caminhamos pela Rua das Flores, uma trilha perfeita para zumbis e almas penadas.
Para ilustrar a Nostalgia deste domingo mostramos algumas fotografias das mexidas feitas na Rua XV e Avenida Luiz Xavier nos anos de 1966 e 1972. Contando para tanto com a colaboração do velho companheiro e fotógrafo Erony Santos.
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