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A chuva cai e o público procura abrigo na Boca Maldita, mesmo os que têm guarda-chuvas não se atrevem a transitar pelas poças d’água acumuladas no terrível calçamento | Arquivo CD
A chuva cai e o público procura abrigo na Boca Maldita, mesmo os que têm guarda-chuvas não se atrevem a transitar pelas poças d’água acumuladas no terrível calçamento| Foto: Arquivo CD
  • Para algumas pessoas de antigamente, os aguaceiros do centro da cidade era sinônimo de prejuízos. Entretanto algunsgaiatosse divertiam nas enchentes, como é o caso da dupla que aparece na foto feita no verão de 1947, na Praça Zacarias
  • Curitiba sempre foi uma cidade úmida, porém o tempo seco no inverno é mais desejado. Na fotografia vemos a enchente numa temporada de chuvas na primavera. A foto é da enchente de outubro de 1911, na Rua João Negrão esquina com Sete de Setembro
  • A mansidão do lago do Passeio Público era formada pelas águas do poluído Rio Belém, cujas enchentes causavam problemas em outros pontos da cidade. Foto de 1947
  • A bizarra cabeça do cavalo babão, da fonte iconoclasta daPraça Garibaldi, a qual muitos acham ser a perdida cabeça damula sem cabeça. Uma obra para aguar mais um pouco a paisagem curitibana
  • Curitiba é entrecortada por diversos rios, riachos que em tempos chuvosos causam enchentes e muitos prejuízos. Na foto, recente, oRio Uvútransbordando, na Cascatinha de Santa Felicidade

Vamos todos virar sapos! Pouco importava no meu tempo de piá, quanto mais chovia mais folia se fazia nas poças d’água, mas só que no Verão. No inverno a chuva, a garoa e o frio era o chamado tempo pestilento, tempo de gripe e outras doenças. O aconchego do lar era o melhor refugio, na cozinha ao lado do fogão a lenha. Leite quente, broa com mel pr’a esquenta o peito.

A chuva lá fora o barulho nas calhas; aqui dentro na cama, embaixo da coberta de penas de ganso, a salvo do frio molhado. Hora de levantar, um suplício, para quem tinha de sair de casa. O lamaçal invadia as ruas dos bairros, que começavam a menos de mil metros da Praça Tiradentes. Gente encharcada, levando o segundo par de calçados muito bem acondicionados para ser feita a troca, ou na escola ou no local de trabalho. A meninada mais humilde andava descalço mesmo e tiritando de frio.

Curitiba tinha seus tempos de aguadas, assim como de estiagens. Nunca se ouvira falar no El Niño, tampouco na La Niña. Inverno em tempo de seca era o gostoso e as pessoas não se importavam com as geadas que viessem, ajudavam a exterminar os insetos daninhos. Geada após as chuvas era a temida, geada preta como era designada, esta congelava a água acumulada na terra formando filamentos de gelo abaixo do solo, queimando as raízes das plantas mais sensíveis.

Chove chuva, chove sem parar. Hoje ninguém mais fala que todo mundo vai virar sapo. Para quem tem o conforto da vida moderna não chega nem a molhar a sola dos sapatos, mas, em contrapartida, para quem não tem tais aconchegos? Enfrentar um ônibus lotado, cheio de gente com roupa molhada, tanto para ir como para voltar. Encharcar os pés, embora calçados, nas incontáveis poças d’água estancadas na péssima pavimentação das calçadas de Curitiba.

E assim vamos levando a vida. Agora que estamos entrando nos três meses de inverno, temos de torcer para que o tempo frio, pelo menos, venha com aquele maravilhoso céu azul e ar menos úmido com que em muitas outras temporadas Curitiba sempre era premiada. Vamos esperar a primavera, que deverá trazer bem-estar, flores, canto de pássaros e a esperada eleição na qual, conscientemente, poderemos fazer trocas como: acabar com promessas de bocas moles e acabar com as falcatruas políticas que atingiram, ultimamente, o município. Vamos, pelo menos, tentar eleger pessoas que entendam de calçadas.

Para ilustrar a Nostalgia deste domingo, que espero ser o começo de um inverno bem ensolarado, mostro fotografias de águas curitibanas e que não especificamente todas de chuvas.

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