Silêncio em Curitiba, está tudo em calma. Aparentemente. As obras do metrô? Ninguém mais fala. Trânsito para bicicletas no Centro? Somente em horário especial e aos domingos. Enquanto isso a canaleta do expresso da Avenida República Argentina é o paraíso dos ciclistas, esqueitistas e da turma que gosta todos os dias de ter o Cooper feito.
O cidadão curitibano, que não é bobo nem nada, caminha pela cidade tropeçando em obras inacabadas, calçadas em blocos de cimento, em ruas movimentadas sobre asfalto novo, como a Rua Brigadeiro Franco. Afinal, por ali passam milhares de pessoas, ou eleitores, todos os dias. Um circunspecto cidadão que já viu de tudo por esse mundão afora, caminhando sobre o novo calçamento, comenta sobre o velho adágio: Marmelada na hora da morte ajuda a matar!
Muita gente, em tom de brincadeira, me chama de testemunha ocular da história. Posso garantir que, em termos da história atual de Curitiba, muita coisa aconteceu abaixo do meu nariz, em que pesem as tentativas dos prestidigitadores e ilusionistas em afirmar que não era bem aquilo que estava acontecendo.
Agora mesmo acabou de ser escarificado o leito da Avenida Vicente Machado, retirando todo asfalto em perfeito uso para ser trocado por uma nova capa de asfalto. Uma obra elementar, meus caros leitores, como se dizia antigamente: para inglês ver! Enquanto isso, a grita vem dos bairros com ruas iludidas por uma colcha de retalhos, remendos numa cobertura chamada mentirosamente de antipó.
A obra que sofreu a Vicente Machado me traz à lembrança outra, acontecida durante a gestão de Rafael Greca na prefeitura. Em 1992, Jayme Lerner, antes de deixar a prefeitura, encetou uma obra no Rio do Ivo, mais precisamente no início da Rua Monsenhor Celso. Para salvar o terreno que pertencia a um patrício, localizado na Rua Barão do Rio Branco, desviou o rio e o jogou no canal de vazão que corre pela Rua Pedro Ivo. O canal foi construído com verba e apoio do Departamento Nacional de Obras e Saneamento, percorrendo desde a Praça Osório, Voluntários da Pátria e Pedro Ivo até se juntar com o Rio Belém.
As enchentes praticamente acabaram em Curitiba desde o início da década de 1970 até 1993, quando então recomeçaram junto com as enxurradas. Para remendar o erro, o prefeito Greca arrebentou a Avenida Vicente Machado desde a Rua Coronel Dulcídio até a Rua Visconde de Nácar, construído enormes recipientes de concreto para reterem o excesso das águas do Rio do Ivo, o que na prática pouco adiantou. Hoje quem passa pela Vicente Machado em dias quentes sente o maligno cheiro exalado pelos bueiros e produzido pelo material pútrido acumulado nos depósitos das águas contaminadas.
Curitiba continua sendo uma experiência de planejamento urbano, ainda que muito dispendiosa. O ônus é sofrido pelo bolso do contribuinte, cujos tributos muitas vezes são ditados como sendo o dinheiro da viúva. As cobranças sobre obras feitas para os compadres jamais acontecem, principalmente quando tem quem acoberte ou queira colocar mais uma pena na cauda do pavão. O povão dos bairros se incumbirá de depenar o rabo do pavão.
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