Distintos cavalheiros

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Quando o velho fotógrafo Do­­mingos Foggiatto entrava nos campos de futebol da velha Curitiba nada es­­ca­­pava ao seu arguto olhar. As imagens eram gravadas e a maioria de­­las nunca seriam publicadas; algumas vendidas como postais, as mais significativas é que ilustrariam as páginas dos jornais para quais eram fornecidas.

O recente acontecimento do quebra-quebra, no estádio do Coritiba, me levou a escolher algumas imagens feitas pelo Foggiatto do público que frequentava os campos esportivos aqui da capital na década de 1940. A intenção é exatamente comparar como eram os costumes e o comportamento do curitibano como assistente de uma partida de futebol há mais ou menos 70 anos.

A começar pelo biotipo, nota-se a diferença física do curitibano de antigamente. As fotografias escolhidas estão entre as que apresentam maior volume de público – o leitor pode observar que as pessoas estão comprimidas num ajuntamento atualmente incomum e pelas suas expressões temos a plena certeza que estão ali unicamente para se divertirem.

Que tal então os trajes? Os homens de terno, gravata e alguns com chapéus. Elegância e distinção. As moças e senhoras trajando, com bom gosto, seus vestidos, que eram as indumentárias que proclamavam os atributos femininos de então. Como podemos ver, as partidas de futebol contavam com a presença da mulher curitibana.

Outra coisa que nos impressiona é o tipo de proteção que separava os espectadores do campo de jogo: uma frágil meia cerca, geralmente de tela, onde parte da assistência se debruçava para assistir ao espetáculo com maior conforto.

Como não existiam torcidas uniformizadas os torcedores se misturavam, muitas vezes em grupos de amigos, não importando quais eram os times de suas preferências. Obviamente policiamento existia, mais como prevenção do que especificamente para controlar tumultos. Naqueles tempos a educação e a cidadania eram os temperos do respeito ao próximo, dando raros, ou nenhum trabalho, ao policiamento, que era efetuado por uns poucos guardas civis, às vezes com cavalarianos que ao invés de cassetetes eram armados de espadões.

Quando observamos essas fotos do passado ficamos a imaginar que hoje alguma coisa está errada. O que pode provocar momentos de verdadeira fúria nas torcidas da atualidade, que normalmente são compostas pela nossa juventude? Tor­­cidas organizadas, normalmente com líderes enrustidos que usam a vibração da mocidade para seus oportunos proveitos.

Um dia ainda vamos recordar aqueles tempos em que existiam os distintos cavalheiros, uma estirpe extinta que acabará virando lenda.

NR: As fotografias que ilustram a Nostalgia deste domingo foram feitas entre os anos de 1945 e 1949.