Agradecimento pela informação
"Assíduo leitor da Gazeta há cerca de 60 anos, considero imperdível inteirar-me da sua maravilhosa página dominical Nostalgia, e, com o propósito de colaborar, informo-lhe que a fotografia de 1951 (foto 5), no então Parque Cruzeiro, se refere à churrascada de confraternização entre dirigentes e funcionários da Sucursal do Paraná e Santa Catarina da São Paulo Companhia de Seguros, ao ensejo da visita dos diretores Alcindo Brito e Kyelce Amazonas Correia. Grande abraço, João Antonio Baptistella."
Curitiba foi uma das cidades que conheceram diversos circos que circulavam por este imenso Brasil. Espetáculos dos mais variados divertiam os curitibanos em baixo da lona, que abrigava um mundo mágico de sonhos, comédias e dramas. O circo deu seus últimos suspiros pelos bairros da cidade com uma trupe que, por motivos de força maior, foi ficando por aqui e acabou se curitibanizando: a família Queirolo.
A capital paranaense tem fama de ser o ponto final de muitos artistas, orquestras e outras companhias nômades. Antigamente, os ciganos armavam aqui suas barracas nos descampados dos bairros. E viajando sempre depois de suas mulheres ditarem as buenas dichas nas leituras da sorte na linha das mãos, e de os maridos negociarem o estoque dos tachos de cobre que produziram. Hoje, até os ciganos sedimentaram-se na cidade, abandonando a vida nômade e as lonas das barracas pelo conforto dos apartamentos.
Com os Queirolo aconteceu o mesmo. O Circo Irmãos Queirolo, até o final da década de 1930, esteve várias vezes na cidade. Em 1942, a família Bianchi montou o Pavilhão Carlos Gomes em terreno pertencente ao Victor do Amaral na esquina da Rua Marechal Floriano com a Rua Pedro Ivo , e ali permaneceu por vários anos. Os irmãos Otelo e Julio Queirolo, respectivamente os palhaços Chic-Chic e Harrys, foram contratados já para a inauguração do pavilhão, em 10 de outubro de 1942. Ali permanecendo praticamente até o encerramento.
Os Queirolo foram ficando em Curitiba e após o encerramento do Pavilhão Carlos Gomes tornaram a montar seu próprio circo, ficando vagando por cidades da região metropolitana. Finalmente, passaram a montar a lona somente nos bairros da cidade. Lona essa que, algumas ocasiões, se apresentava em estado lamentável, até ser levantada a verba necessária para a aquisição de um pano novo.
A alma deste circo tinha um nome: Otelo Queirolo, que, devidamente maquiado, se apresentava no picadeiro como o palhaço Chic-Chic, causador da alegria e do riso franco dos espectadores. Nascido na Argentina, em 1895, Otelo acabou sua vida em 1967, aos 72 anos de idade, nesta cidade hospitaleira aos mais variados mestres do entretenimento. E o seu nome batiza uma das ruas de Curitiba homenagem mais do que justa, para perpetuar tão querido personagem.
Otelo Queirolo, palhaço que espargia alegria, era de fato um homem triste. A razão se apegava a uma filha que tinha tido um mau casamento com um participante de espetáculos de lutas no rinque do Pavilhão Carlos Gomes e que continuava suas peripécias brigando pelos bares da cidade. Razão forte para o Chic-Chic criar raízes em Curitiba. Após os espetáculos, não importando em que bairro fosse, Otelo vinha para a sua mesa preferida no Bar Carioca, que ficava na esquina da Rua Desembargador Westfalen com a Rua Pedro Ivo. Quando ele morreu, o proprietário do bar, em sua homenagem, pendurou a cadeira na parede do estabelecimento em tributo ao grande freguês e amigo. O Bar Carioca sumiu da paisagem curitibana e junto a cadeira onde o palhaço descansava. Sumiu o circo, sumiu o palhaço e junto foi sua imagem abraçada com a cachorrinha de pano, a Violeta, companheira inseparável do picadeiro do Circo Irmãos Queirolo.
As fotografias da sequência de Otelo Queirolo se maquiando foram executadas por mim para uma reportagem especial feita na revista Panorama, em meados de 1960, quando o circo estava instalado no Bairro do Pilarzinho.