A imagem mais simbólica do desejo dos brasileiros que foram às ruas ontem, presenciada pela coluna, foi a de um cadeirante, um homem de cerca de 40 anos, sem as duas pernas, que seguia solitariamente conduzindo a própria cadeira pela Rua Barão do Rio Branco em direção à Praça Santos Andrade, em meio ao fluxo de carros. Vestia uma camisa amarela. Já na praça, muitos outros cadeirantes engrossavam o coro da multidão. Idosos usando bengalas ou nariz de palhaço, bebês dormindo em carrinhos enfeitados de verde e amarelo, cães ornamentados. Gente humilde com a bandeira do Brasil servindo de capa, gente da alta sociedade. Num carrinho de pipoca via-se uma folha de papel colada por dentro com a frase impressa em computador: “Fora Corruptos”. Algumas placas também continham recados a outros partidos. Numa delas estava escrito: “Dilma, Lula, PT, PDT, PMDB, PSDB, PQP Moro espera com APT de luxo”.
Epidemia cívica
O jurista e professor René Dotti descansava no camarim de um caminhão de som estacionado na Avenida Marechal Deodoro. Ele iria discursar quando o veículo chegasse próximo da Boca Maldita. Para ele, o país vive uma “epidemia da rejeição”. Dotti falou à coluna. “À medida que surgem fatos novos comprometendo a dignidade pessoal do ex-presidente e as contradições da presidente a população vai sentindo aquilo como se fosse um contágio, um movimento em cadeia de rejeição ao ex-presidente e a presidente atual. Elas [as manifestações] servem de estímulo. O Brasil não pode dormir eternamente em berço esplêndido”.
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