Acabo de ler na internet que cerca de um terço da população do mundo não consegue ver direito o céu. Não por causa dos vilões da modernidade (prédios, fumaça, luzes artificiais etc.), mas porque vive em regiões excessivamente brindadas e blindadas, pela própria natureza, com brumas e nuvens. Curitiba, desconfio, é um desses locais, até mesmo por se situar naquela altura, nem muito acima, nem muito abaixo do resto de tudo, em que os rebanhos de certas nuvens especialmente fofas, nimbus nebulosus, resolvem fazer pasto (olhar de leigo: peço perdão aos meteorologistas pela ciência torta na poesia nefelibata).
Deve ser por isso, também, que, a despeito do frio absurdo dos últimos dias, vi muita gente feliz e a comentar o azul profundíssimo do céu. Verdadeiro céu de rastrear disco voador, abóbada de inverno, ou melhor, desse outono ansioso querendo se passar pelo irmão nascituro. Bonito o dia inteiro, combinando com a luz pálida do sol e até com o vapor que sai da boca. Coisa linda.
A despeito do frio absurdo dos últimos dias, vi muita gente feliz e a comentar o azul profundíssimo do céu
Melhor que isso, mesmo, é perseguir o pôr-do-sol que começa cedo e observar as camadas sobrepostas de luz no horizonte. Inversão, igualmente bela, da “Aurora de róseos dedos” descrita por Homero na Ilíada. Aurora vai dormir.
A visão é especialmente interessante em áreas da cidade menos recortadas pelo cenário urbano, casos, por exemplo, do Umbará, do Ganchinho e de parte de Fazenda Rio Grande, onde os proprietários rurais que plantam e vendem grama prestam um insuspeito e gratuito serviço de observação do céu. Desconfio de que em outras áreas próximas, como São Luís do Purunã, a coisa caminhe de forma semelhante, mas com direito a montaria, poncho, polenta e pinhão.
De resto, é o próprio efêmero. O pôr-do-sol desaparece em questão de minutos – você desvia o olhar por um instante para comentar com alguém no WhatsApp e vupt!, foi-se embora deixando a noite polar. Os eventuais registros de celular, de fato, não costumam fazer jus à experiência, que tem muito mais de uma soma entre originalidade Zen e heroísmo que de suas representações imagéticas. No caso da fotografia de alto nível, alguns mestres locais nos mostram que é possível cristalizar o momento e deixá-lo unicamente como um sedutor convite para o próximo fim de dia. Desde que, evidentemente, a velha e espaçosa massa de nuvens não resolva voltar para casa e encobrir tudo.
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