Essa ideia de androides me fascina. Tanto, certamente, quanto à própria humanidade, que há milênios tenta reproduzir seres humanos da forma não convencional. Androides povoaram a mente dos antigos gregos, judeus, chineses e japoneses. Os robôs humanoides retornaram ao imaginário no Romantismo, com os personagens de Hoffmann, e se instalaram no século 20 com Isaac Asimov e Philip K. Dick. Hoje, sutilmente, estão por aí: no Japão, eles já servem lanches e trocam uma ideia com hóspedes de hotéis. São intelectualmente humildes, a despeito da gigantesca carga tecnológica embutida, mas prometem uma barbaridade.
Para que alcancem o estágio de Blade Runner, contudo, ainda vai um tempo. Será preciso vencer, por exemplo, aquela barreira sutil, asco próprio do cérebro humano, que reprova automaticamente humanoides muito perfeitos, mas que, no finzinho do processo, não formam as rugas corretas quando sorriem.
Teremos robôs – androides e animaloides – fazendo parte da vida e da estima das pessoas em questão de décadas
Chegando ao ponto: na semana que passou, assisti a um vídeo da empresa Boston Dynamics, que produz robôs avançados. Eles aparentemente ainda não se interessaram pela forma humana, mas já criaram quadrúpedes eletrônicos fora do comum. As máquinas são esguias como gazelas e, quando saem para o jardim – de vez em quando, eles soltam a bicharada para esvaziar o laboratório –, circulam pelo gramado com aquela paz ruminante. Driblam as moitas, formam pequenas manadas, esperam e marcham. Uma beleza que só não é completa porque os projetos são financiados pela Darpa, agência do governo norte-americano voltada ao desenvolvimento de projetos militares.
O vídeo demonstrativo é incrível: lá pelas tantas, a máquina sai andando pelo corredor até encontrar um dos cientistas, que, para testar sua capacidade de equilíbrio, ergue a perna e lhe dá um belo empurrão com a sola do pé. O bicho sai meio de lado, dobra as pernas, titubeia um pouco e já se reequilibra, voltando a marchar. Santo giroscópio. Estupendo, muito mais porque, ao acompanhar a peripécia, fiquei irritado com o pesquisador que chutou o robô, reagindo ao ataque com uma frase do tipo “Ô, sacana, pare com isso!” Pois é: estabeleci empatia... com uma máquina. E vi aquele asco próprio do cérebro humano diante da farsa robótica ir por água abaixo. O sinal definitivo, nem que seja só para minha própria mente, de que teremos robôs – androides e animaloides – fazendo parte da vida e da estima das pessoas em questão de décadas. E o resto não é mais ficção.