Foi outro dia, em uma conversa com estudantes, que fiquei conhecendo a expressão “pareidolia”. Num primeiro momento, achei que era coisa de tarado: para quem passa pelo assunto voando, “dolia” e “filia” acabam deitadas na mesma cama, e “pareido” só pode lembrar parede. Santa ignorância: pouco depois, aprendi que pareidolia vem do grego para (de paralelo) e eidolon (imagem, duplo, fantasma). Pareidolia nada mais seria que o fenômeno normalíssimo de visão de coisas onde elas, de fato, não estão. Carneiros em nuvens, mapas nas pedras do calçamento, carinhas em objetos.
A psicologia e a antropologia explicam o fenômeno a partir de uma construção interessante: o mundo fornece imagens ao indivíduo, que as armazena na mente como símbolos e as devolve como reconhecimento dos objetos. Só sei que uma mesa é uma mesa, enfim, porque no passado aprendi o que era e para que servia. Se a desconhecesse, ela seria lida, provavelmente, como uma curiosidade ou a partir de outra referência prévia. Na situação “pareidolística”, o objeto não está lá, mas, ainda assim, a mente faz um reconhecimento com base em elementos mínimos. Bate o olho na rachadura da parede e percebe uma imagem de Elvis Presley, que dali a pouco se desfaz.
O mundo fornece imagens ao indivíduo, que as armazena na mente como símbolos e as devolve como reconhecimento dos objetos
A coisa ganha contornos mais complexos quando uma imagem desse tipo acaba associada a um fenômeno religioso. É o caso, por exemplo, de uma imagem de Jesus percebida em uma torrada ou de uma efígie da Virgem Maria observada nas manchas de óleo de uma vidraça – ambos os casos são reais e aconteceram há alguns anos nos Estados Unidos.
Na medida em que se trata de uma questão de fé, não há de se pensar na exclusividade do fenômeno mental – de repente, a imagem está lá por milagre mesmo e, como não compreendo os milagres, erro no meu diagnóstico. Fato é, porém, que nos países budistas as imagens refletem budas e bodhissatvas; na Índia, se referem a deuses como Krishna, Shiva e Brahma. Sem um Jesus previamente conhecido, não há Jesus; sem Brahma, idem, e assim por diante.
No fim da conversa com os jovens, devidamente “pareidólico” – ou seja, depois de apreender um conteúdo novo e passar a representá-lo no mundo –, comecei a desenhar e a desmanchar coisas no piso e em pratos de sopa. Exercício, de resto, dos mais curiosos. Fica o convite: que tal dar uma espiadinha na parede?
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