Abro uma gaveta esquecida e dou de cara com um velho adversário. Perdido entre moedas, clipes e acessórios do boneco Falcon está o famigerado cubo de Rubik, aquele brinquedo que, vez por outra, emerge do oceano de quinquilharias nas lojas de R$ 1,99. Cubo mágico, por quem (o dito cujo já virou até personagem) fui derrotado mil vezes na infância e na adolescência. Enigma mecânico que se entrega, no programa de variedades da tevê, para um garoto de Cingapura que mal aprendeu a andar e que, ainda assim, alinha todas as cores em coisa de doze segundos. Perguntado sobre o método, o guri sorri em dentes de leite. Só os inocentes hão de acessar o mistério.
No fundo, admito, minha raiva se deve ao fato de eu ter sido flagrado fraudando o sistema
Desconfio de que existam milhões de cubos mágicos perdidos nas gavetas do mundo, em sua maioria invictos. Os que foram resolvidos, aliás, devem estar ainda mais esquecidos: superados por uma genialidade genética (inteligência construída, no caso, não basta), viraram truque de salão e acabaram abandonados diante da constatação de que as pessoas odeiam os sabichões.
O próprio inventor do brinquedo, o húngaro ErnÅ Rubik (até o nome é meio arcano), levou um mês para decifrá-lo. Inventou e foi mesmerizado pela forma poliédrica, tomou café e comeu broa com ela até que, por fim, veio a luz. Se um gaiato misturasse todos os quadrados logo depois, é possível que Rubik jogasse tudo para cima e fosse inventar mísseis balísticos.
No fundo, admito, minha raiva se deve ao fato de eu ter sido flagrado fraudando o sistema. Ganhei o brinquedo de meu pai, brinquei, fiquei com raiva e joguei o dito cubo na parede, e ele se desfez em cubinhos. Preocupado – naquela época, custava uma boa grana –, corri e comecei a remontá-lo, e vi que dava para acertar as coisas. Solução tipo ovo de Colombo.
Emergi vitorioso, chamando a família para mostrar o feito. Surpresos, misturaram as cores e pediram que eu resolvesse de novo. Solene, voltei para o quarto, me tranquei lá (silêncio, please) e repeti o processo. O cubo, porém, ficou meio molenga e, quando fui mostrá-lo, acabou perdendo um dente. Desprezo geral.
No presente, reencontro o enigma e faço uma tentativa solta, que também fracassa. Não há milagre matemático. E o dito brinquedo volta para a gaveta, trocado por um polvo de borracha do Falcon que vai ornamentar minha escrivaninha. É a vingança do esquecimento, que há de valer pelos próximos vinte anos. Cubo dos diabos!
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