Os sinais da presença deles pelo Paraná estão nas placas dos carros, na cuia de tererê, bebida típica produzida com erva-mate em água fria, ou no espanhol falado na orla e comércios praianos. Os paraguaios, aos poucos, estão se tornando cada vez mais presentes no litoral do estado e de Santa Catarina. Nas praias de Matinhos e Pontal do Paraná, segundo as associações comerciais destes municípios, os “hermanos” já representam uma fatia de pelo menos 10% no número de hóspedes desta temporada.
Esse porcentual, calcula o presidente da Associação Comercial e Industrial de Matinhos (Acima), Helinson Pampuch, já foi bem menor. “Estamos sentindo a vinda maior dos paraguaios nos últimos dois anos. De lá para cá, fizemos um trabalho em feiras de turismo em Foz do Iguaçu, para atrair o público para o litoral do Paraná”, relata ele, ao observar que há até uma empresa de turismo da cidade especializada em trazer grupos paraguaios para o destino paranaense.
As viagens ocorrem durante o ano todo, inclusive no inverno, e têm como maior público famílias e a terceira idade. A maior atração para os visitantes de Matinhos é a Praia Mansa, no balneário de Caiobá. Já quem vai para Pontal do Paraná, tem como destino a travessia para conhecer de perto a Ilha do Mel. “Eles estão em busca de uma região menos saturada e com atrativos com preços menos elevados”, avalia Pampuch.
Ao menos neste verão, os preços praticados no litoral paranaense realmente têm agradado os paraguaios, segundo a dona de casa Cíntia Villalba, de 36 anos. De Assunção, capital do Paraguai, ela e o esposo, o engenheiro viário Hugo Cavallero, 36, trouxeram os dois bebês - Hugo Benjamin, 3 anos, e Lara, de 1 ano - para passar o ano-novo acampados em Caiobá. No ano passado, a família festejou o réveillon em Bombinhas, em Santa Catarina.
“Não sentimos tanta diferença no quanto pagamos pelas coisas em Matinhos. Estamos com uma economia boa para a classe média no nosso país”, comenta a turista, ao enfatizar o crescimento da economia paraguaia nos últimos anos e o aumento do poder de compra frente à moeda brasileira. Hoje, para se ter uma ideia, R$ 1 é equivalente a cerca de 1.600 guaranis. Em 2014, não saía por menos de 1.900 guaranis.
Cíntia assinala ainda que a viagem de 16 horas rumo ao litoral paranaense compensa também pela beleza, tranquilidade das praias e hospitalidade dos locais. Os quatro viajantes estão instalados em um camping com capacidade para cerca de 600 pessoas e já se enturmaram com os vizinhos, incluindo as crianças.
“Vir para cá é bem mais longe do que ir para a Argentina, mas é mais caloroso. Aqui, não temos rivalidade com os brasileiros como os paraguaios têm com os argentinos”, brinca a veranista. Ela e a família permanecem no Brasil até o dia 3 de janeiro.
Também de Assunção, o segurança Cristian Franco, de 31 anos, se acomodou com mais 14 pessoas em uma casa de frente para o mar, na Praia Mansa. Os primeiros dias destas férias, conta ele, têm sido de contemplação da paisagem e hidratação com tererê. “Chegamos e estamos investigando o que fazer por aqui. Estamos gostando muito porque as coisas são acessíveis e não vemos violência”, salienta.
O presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Pontal do Paraná (Aciapar), Gilberto Spinosa, analisa a vinda dos paraguaios para o litoral do estado como positiva e resultado também de “laços de convivência” entre brasileiros e os vizinhos. “O Paraguai é um exportador grande de soja no porto de Paranaguá e, por uma questão geográfica, acaba tendo uma maior proximidade com o mar através do Brasil”, assinala. Ele acredita que uma maior movimentação destes visitantes no país deve ocorrer após o ano-novo.
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