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TRANSPORTE COLETIVO

Decisão do TC não deve reduzir a tarifa

A prefeitura de Curitiba vai retirar os ônibus híbridos de circulação. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
A prefeitura de Curitiba vai retirar os ônibus híbridos de circulação. (Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)

Divulgada na última segunda-feira (29), a decisão do Tribunal de Contas do Paraná (TC) sobre o relatório da tarifa do transporte coletivo de Curitiba foi mais um ingrediente na conturbada relação entre concessionárias e poder público. Pelas determinações do órgão (leia mais no gráfico abaixo), a prefeitura poderá reduzir a tarifa repassada às empresas em R$ 0,33. Uma nova tarifa técnica, inclusive, está em discussão. Mas dificilmente essa conta chegará aos R$ 3,30 pagos pelo usuário na catraca.

É confortável e bom para o meio ambiente. Mas não está certo todos os usuários pagarem para que a menor parcela ande com conforto.

Izabella Rolin Barcellos, usuária de ônibus em Curitiba, sobre o Hibribus

O relatório da tarifa foi publicado em setembro de 2013, após três meses de auditoria. O documento recomendou a redução da tarifa técnica em R$ 0,45 após irregularidades encontradas na planilha que a compõe. Urbs e empresários recorreram na Justiça, que cassou o caráter cautelar da medida. Parte desse trabalho havia se baseado em levantamentos realizados na comissão da tarifa, formada pelo próprio prefeito Gustavo Fruet (PDT).

Ambos os estudos, inclusive, até tiveram algum efeito no valor repassado às empresas por passageiro. Em março de 2013, por exemplo, o prefeito havia anunciado o enxugamento de R$ 0,13 na tarifa com a retirada do Kit Inverno e do Segbus, a redução do reajuste sobre combustíveis e acessórios e dos custos de manutenção da bilhetagem eletrônica. À época, a economia anunciada foi R$ 45 milhões ao ano.

Naquela oportunidade, a prefeitura também foi à Justiça para cortar ainda a tarifa técnica. A ideia era retirar o impacto dos impostos exclusivos das instalações, equipamentos e veículos e a da taxa de risco do Hibribus. O Executivo municipal perdeu, e retirou a ação. A juíza Fabiane Kruetzmann Schapinsky afirmou que as mudanças alteravam o contrato e não poderiam ser feitas em caráter liminar. O objetivo era trazer uma economia de R$ 36 milhões ao sistema.

Mesmo com o esforço, a tarifa técnica em 2014 subiu 8%. Neste ano, esse reajuste ainda não foi anunciado. Empresários e Urbs discutem o novo valor desde fevereiro. Já o passageiro viu sua tarifa subir 14% do ano passado para cá.

Histórico

Por esse histórico, o anúncio do TC da última segunda dá novo fôlego para a prefeitura na discussão com os empresários. O governo municipal informou que pretende arcar com as determinações do órgão de controle, mas adiantou que isso poderá trazer questionamentos administrativos e judiciais. Há ainda a questão da revisão das gratuidades, também pedida pelo tribunal. O prefeito Gustavo Fruet anunciou que oficiais de Justiça, policiais militares e carteiros devem começar a pagar a tarifa. Esses profissionais correspondem a 10% do total de viagens gratuitas realizadas por dia. Ao todo, as dez classes de usuários com esse benefício realizam 2,8 milhões de viagens gratuitas por mês – o equivalente a três dias de operação.

Clique no porcentual para entender a posição de cada uma das partes envolvidas:

O acórdão

Veja quais são os principais itens da decisão final do Tribunal de Contas do Estado, a posição da prefeitura sobre eles e o estágio atual dos nós do transporte público de Curitiba.

Determinação do TC
Em R$
Porcentual
Retirada dos impostos exclusivos
0,12
4,14
Adoção do preço mínimo do combustível da ANP como parâmetro no custo da tarifa
0,057
1,93
Redução porcentual do consumo do óleo diesel
0,008
0,29
Retirada dos custos com depreciação e remuneração de investimentos em edificações
0,066
2,20
Retirada do custo de Hibribus e taxa de risco
0,062
2,07
Retirada do fundo assistencial
0,016
0,54
Retirada do custo com o Kit Inverno
0,001
0,04

Redução total de R$ 0,33, o que equivale a 11,21%.

Fontes: TC e Urbs. Infografia: Gazeta do Povo.

SITUAÇÃO DE OUTROS ITENS

Maior transparência na divulgação dos dados reais analíticos de custos das empresas na comparação com os valores pagos na tarifa

A Urbs já divulga os parâmetros que compõem a tarifa técnica, bem como os principais preços dos insumos e a metodologia utilizada no cálculo da tarifa

Revisão das gratuidades do setor

Ao todo, dez classes de usuários têm acesso gratuito aos ônibus de Curitiba. Apenas os idosos têm amparo constitucional. O prefeito já divulgou que policiais, oficiais de Justiça e carteiros devem passar a pagar – mas eles representam apenas 10% das viagens gratuitas. O impacto total das gratuidades na tarifa é de 13,99%

Pagamento maior a título de “rentabilidade justa” por investimentos realizados pelos empresários – total estimado de R$ 20.955.546,63

Questão é alvo de ação judicial interposta pelos próprios empresários, que pedem reequilíbrio econômico do contrato alegando que recebem menos do que deveriam

Divulgação do cumprimento dos indicadores de qualidade no site da Urbs

Contrato prevê bonificação de 3% pelo cumprimento de padrões de qualidade. Em julho de 2013, a Urbs divulgou que passaria a descontar esse porcentual em caso de descumprimento. Estava prevista também a divulgação periódica do trabalho no site. Mas as empresas foram à Justiça e conseguiram suspender os descontos

Identificar os responsáveis pela operação do Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC) em até 30 dias

O FUC é operado por técnicos da Urbs. O acompanhamento das contas é público. Mas o setor cobra a divulgação do saldo do fundo

Contornar a estagnação tecnológica

A prefeitura tem projetos para investir na eletromobilidade

Divulgar a metodologia para projeção de passageiros pagantes

Ultimamente, as projeções não têm se concretizado. Superestimadas, elas acabam impactando no cálculo da tarifa técnica

Controlar o consumo real de combustíveis

Análise rotineira. Mas o controle individualizado não é realizado porque isso demandaria investimentos e aumento no custo tarifário. Possibilidade de inclusão na telemetria de novos veículos, mas renovação da frota está suspensa na Justiça a pedido dos empresários

Estudar modelo alternativo à cobrança da taxa de gerenciamento baseado no valor de 4% do total arrecadado pelo FUC

A fonte de custeio da Urbs é baseada nos 4% cobrados na tarifa. O problema, segundo auditores, é que o repasse à Urbs aumenta de acordo com as altas da tarifa. Um modelo alternativo, por exemplo, seria a criação de mais uma secretaria, que assumiria o papel da Urbs, a exemplo do que ocorreu com os serviços de trânsito

Efetivo controle dos bens de uso exclusivo para operação no sistema de transporte coletivo de Curitiba

Questão tramita na Justiça, com parecer favorável do Ministério Público aos empresários. Eles pedem que o fim dos descontos pelos bens de uso exclusivo em Curitiba (ônibus com características próprias à cidade), alegando que essa frota foi investimento. Prefeitura argumenta que o desconto é legal porque a frota passou para o município após a licitação

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