Demora para exames e consultas médicas ou procedimentos cirúrgicos não são exclusividade da saúde pública no Brasil. Usuários de planos de saúde vivem dilemas parecidos. Em alguns casos, os planos negam-se a cobrir determinados procedimentos – o que leva o indivíduo a buscar nos tribunais o direito ao atendimento.
Reflexo apontado por pesquisa divulgada pelo Instituto DataFolha, no início de outubro: 20% das pessoas que têm planos de saúde recorrem ao Sistema Único de Saúde (SUS). A alegação é de que faltam opções de atendimento nas operadoras. Em 2012, esse porcentual era de 15%. No total, 84% dos pacientes de planos de saúde relataram problemas com os serviços prestados.
As próprias reclamações que chegam à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apontam como está a situação das operadoras no país: 63% das queixas correspondem a temas relacionados à consulta médica. São dificuldades para obter autorização para consultas e exames, demora de atendimento, procedimentos médicos e críticas à própria rede de atendimento.
Sheilla Figlarz, 65 anos, é um exemplo de usuário de planos que encontrou dificuldades. Ela chegou a processar a operadora quatro vezes – ganhou todas. Dois procedimentos eram para a sua mãe, que morreu há três anos. O plano havia negado a implantação de um stent renal e o tratamento para uma hemorragia macular, que afeta o olho e pode levar a pessoa a perder a visão.
“Minha mãe pagou o plano a vida toda e quando precisou, não teve direito a nada. É um absurdo”, afirma Sheilla.
Outros dois procedimentos eram para ela – uma tomografia óptica, que também tinha sido negada e outra solicitação, mais grave, uma cirurgia para retirar um tumor da perna esquerda. “Quando tem uma emergência, não tem cobertura”, indigna-se.
Após passar pelo procedimento cirúrgico, realizado em caráter de urgência, Sheilla ingressou com uma ação para conseguir o reembolso do valor dispensado. Sem falar que, para ela, existe demora de atendimento e dificuldades para conseguir agenda com o médico via plano.“Tem situação em que a gente é tratado igual ao Sistema Único de Saúde (SUS). Se a gente paga um plano suplementar, a situação deveria ser melhor e o atendimento, mais rápido”, ressalta.
Consultas limitadas
Uma das causas que ajudam a explicar as reclamações dos usuários de planos, segundo o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná, Luiz Pujol, está ligada ao valor pago aos médicos credenciados aos planos. Isso faz com que os profissionais limitem a quantidade de consultas via plano. Segundo Pujol, o médico ganha em torno de R$ 68 por consulta via plano.
“Isso que tem desconto de impostos e taxa de administração. O lucro fica perto de R$ 30. Ele acaba limitando as consultas para garantir agenda no atendimento particular”, diz o presidente, que atua no SUS há 45 anos. “O resultado é que o plano é parecido com o SUS no sentido de que o usuário paga e, mesmo assim, tem de enfrentar fila para conseguir consulta”, afirma.