A faxineira Geocilane Silva de Oliveira, 44 anos, perdeu uma das netas de apenas 2 anos| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo
O bombeiro eletricista Damião Souza, 32 anos.
O ex-pedreiro Juaci da Ponte Rabello, 65 anos.
O jardineiro Jorge Antônio da Costa, 43 anos, e sua família vivem com mais 200 outras pessoas num dos maiores abrigos de Teresópolis
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Confira os depoimentos de algumas vítimas das chuvas no Rio de Janeiro:

?Sinto falta da minha neta?

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Em Teresópolis, o bairro de Campo Grande virou um lugar onde só tem ?pedra, lama e água?, diz a faxineira Geocilane Silva de Oliveira, 44 anos. A casa dela foi uma das atingidas pelo temporal e hoje a faxineira vive num abrigo. O que mais lhe entristece é não ter a presença da neta Ana Beatriz, de 2 anos. Na noite da tragédia, a criança estava na casa do pai, destruída pelos deslizamentos. A irmã gêmea da menina, Ana Gabriela, sobreviveu e, agora, pergunta a todo instante onde está a irmã. ?Falo que ela está no céu?, responde Geocilane. Com a resposta, a pequena logo fica quieta, sem entender o que está acontecendo. A avó conta que Beatriz era a mais agitada. ?As duas nunca se separavam.? No abrigo, Geocilane continua cuidando de Gabriela e do neto Antony, de 3 anos, enquanto a filha trabalha. Ainda não sabe onde irá morar nem como reconstruirá a vida, mas tem a certeza de não querer voltar de onde saiu.

?Nunca dormi na casa nova?

O bombeiro eletricista Damião Souza, 32 anos, construiu uma casa nova para morar com a esposa e o filho, em Teresópolis, no Rio de Janeiro. A residência tem quatro andares, piscina, salão de jogos e vários outros confortos. Souza diz que a construiu no padrão exigido pela prefeitura e que já preparava a mudança para o novo lar.

?Já tinha os móveis na casa?, diz. Mas o plano teve de ser alterado por conta do temporal do último dia 11, quando a residência foi atingida por deslizamentos. Três paredes ruíram e entrou muita terra. Apesar de a casa continuar de pé, Souza não sabe se um dia irá morar no local: surgiu a incerteza sobre a segurança do lugar. Irá aguardar pela avaliação de um geólogo para saber se poderá voltar e dormir um dia na nova casa, que custou R$ 130 mil. ?Mas agradeço por estar vivo.?

?Abrigo não vou, nem morto?

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A necessidade imediata de Juaci da Ponte Rabello, 65 anos, de Teresópolis, é uma panela de pressão. Quem ouve o senhor que trabalhava como pedreiro pedindo o utensílio pensa que ele não foi atingido pelo temporal. Pelo contrário. A casa foi arrastada pela enxurrada e Rabello conseguiu se salvar porque se refugiou na casa do irmão. Ele e mais cinco pessoas tiveram de subir no telhado. ?A casa é a arca de Noé. Não afundou mesmo vindo chuva de um lado e do outro.? A família vive hoje na casa de parentes, mas Juaci continua na residência do irmão, em meio aos destroços da vizinhança e sem água encanada. Conseguiu um fogareiro para fazer café e pede a panela para cozinhar feijão. ?Abrigo não vou nem morto. Só saio daqui para uma casa nova ou para o cemitério.? Ele aguarda pela casa e diz não ter condição de recomeçar a vida sozinho.

?Sem casa e sem trabalho?

O jardineiro Jorge Antônio da Costa, 43 anos, enfrenta a indefinição de não saber onde morar nem se terá emprego. A chuva do último dia 11 destruiu o sítio onde ele trabalhava e Costa teve de aguardar por uma resposta do patrão. ?Está uma situação complicada para conseguirmos arrumar uma casa?, diz. Ele vive com a esposa, cinco crianças, a irmã e sobrinhos num dos maiores abrigos de Teresópolis, juntamente com outras 200 pessoas. A família tem um bebê de 11 meses, o que torna situação ainda mais difícil. ?Está braba a situação. Temos que improvisar?, diz a esposa dele, Ingrid, dona de casa. Ela conta que a família não tem outro parente na região para buscar auxílio: a maioria está em abrigo. ?Não podemos reclamar, estão tratando a gente muito bem no abrigo. Não fosse aqui, a gente estaria numa situação ruim?, diz Catarina do Espírito Santo Costa Medeiros, irmã de Jorge.

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