Um dia histórico para o Rio de Janeiro. Uma força de segurança, composta por homens da Polícia Militar, Civil, Federal,Marinha e do Exército, reconquistou, neste domingo (28), o comando do Complexo do Alemão, um dos principais redutos de traficantes da capital fluminense. Perto de 3 mil homens participaram da ação, que iniciou por volta das 8 horas da manhã. Pelo menos dez blindados da Marinha e do Exército foram usados para conduzir as tropas pelos principais locais da região.
O controle da comunidade foi assumido em menos de duas horas, quando foram presos suspeitos de envolvimento com o tráfico. Mais de 10 toneladas de drogas e dezenas de armas foram apreendidas pelas polícias. Um ponto importante da operação foi a invasão ter sido feita sem um longo confronto aberto e deixando apenas uma vítima (total registrado até o início da noite deste domingo).
"O território jamais será dado de volta aos criminosos", disse o subchefe operacional da Polícia Civil, Rodrigo Oliveira. Às 9h22, o comandante-geral da Polícia Militar, Mário Sérgio Duarte, declarou: "Vencemos". O hasteamento de uma bandeira do Brasil no alto do teleférico do morro do Alemão, às 13h22, representou o que as forças de segurança trataram como libertação da comunidade.
A ocupação se deu sem "grandes confrontos", segundo Duarte, o que fez o delegado Marcus Vinicius Braga chamar a situação de "preocupantemente tranquila". A única vítima foi um homem levado ao hospital após trocar tiros com as forças de segurança. Um menor também ficou ferido, mas não corre risco.
Em vez de reagir à ocupação, os traficantes tentaram fugir ou se esconder, o que fez com que as forças de segurança organizassem uma busca de casa em casa da comunidade. No total, 30 pessoas foram presas, incluindo Elizeu Felício de Souza, conhecido como Zeu , um dos homens condenados por participar da morte do jornalista Tim Lopes, da TV Globo.
Outros dois tráficantes foram presos neste domingo à tarde
Por volta das 16h30 deste domingo (28), foi preso o traficante conhecido como Filé, que estava escondido em casa de um morador no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. De acordo com a polícia, ele seria um dos chefes do tráfico da Favela Nova Brasília. Ele está no 16º BPM (Olaria).
Também neste domingo, a Polícia Civil prendeu o traficante Emerson Ventrapane da Silva, o Mão, de 37 anos. Segundo a polícia, ele é um dos chefes do tráfico de drogas no Alemão e tem envolvimento na morte de pelo menos cinco policiais militares no ano passado. Ele também é suspeito de chefiar o tráfico de drogas no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, e seria um dos organizadores dos bondes na área de Irajá para assaltar motoristas.O suspeito foi levado para a 21ª DP (Bonsucesso).
Pelo menos seis presos estão no 16º BPM.
Mister M se entrega
Um criminoso, conhecido como Mister M, se entregou à polícia na tarde deste sábado. A informação é do delegado-adjunto Luiz Henrique Ferreira, da 6ª DP (Cidade Nova). Segundo Ferreira, Mister M seria o segurança do traficante Pezão, que é um dos chefes do tráfico no Alemão e teria contado com o apoio da mãe na negociação para se render.
Policiais da 6.ª DP foram ao Alemão buscar o preso, que já está na detido na delegacia.
Mister M é acusado de ser um dos executores do ex-chefe do Alemão, Tota. A ordem teria partido do traficante Marcinho VP.
Oito dias de confronto
A ação deste domingo foi o resultado de oito dias de confrontos. Desde o último domingo (21) criminosos orquestraram uma série de ataques por toda a cidade, atirando contra policiais e ateando fogo em dezenas de veículos. A reação da polícia e o cerco aos criminosos teve início na última quinta-feira (25) quando uma megaoperação do Bope atacou os criminosos nas favelas da Penha e controlou a Vila Cruzeiro e provocou a fuga em massa de mais de uma centena de criminosos que se esconderam no Alemão. As forças de segurança começaram no dia seguinte o cerco ao Conjunto.
Segundo o governador do estado, Sérgio Cabral, a operação representa uma página virada para o Rio. "A reconquista do território do Complexo do Alemão pelo Estado é um passo fundamental e decisivo na política de segurança pública que traçamos para o Rio de Janeiro", disse.
Alemão tem um dos piores indicadores sociais
O bairro do Conjunto de Favelas do Alemão é dono de uma da piores médias do Índice de Desenvolvimento Social (IDS) da cidade. O índice, calculado pelo Instituto Pereira Passos (IPP), da prefeitura, mede o acesso a saneamento básico, a qualidade habitacional, o grau de escolaridade e a renda da população carioca.
Do total de 158 bairros do Rio, o Alemão ocupa a 149ª posição, com um IDS de 0,474. Quanto mais perto do número 1, melhor o índice. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado no ano 2000, 65.026 pessoas vivem nos 18.245 domicílios do complexo, que é formado por 14 favelas, de acordo com o IPP. Deste total, mais de 15% das residências não contam com rede de esgoto.
Autoridades da área de segurança consideram as ações violentas desta semana uma resposta à nova estratégia implementada na capital com as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), que provocou a saída de chefes do tráfico de favelas onde esse tipo de policiamento foi instaurado. Acuado e forçado a deixar algumas áreas da cidade, o crime organizado estaria reagindo.
A implantação das UPPs em 15 das centenas de favelas espalhadas pela cidade é considerada o maior avanço na área de segurança pública da capital fluminense nos últimos anos, e a medida foi inclusive citada pelo Comitê Olímpico Internacional como um exemplo de que a cidade será segura para a Olimpíada de 2016. O Rio também será palco central da Copa do Mundo de 2014.
Veja no mapa a localização das favelas Vila Cruzeiro e Morro do Alemão
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