Quando criança, o hoje médico anestesista Clóvis Chiaradia, de 73 anos, achou interessante saber que sua cidade, Botucatu, a 238 km de São Paulo, tinha um nome de origem indígena. O clima tido como agradável deu ao nome da cidade o mesmo significado que tem o da capital argentina: bons ares - de "botu", que significa ar e "catu", bom.
Alguns anos depois, ele se interessou em saber mais sobre a influência das línguas indígenas no país e, principalmente, no estado de São Paulo. Aproveitou as horas vagas da rotina de médico para pesquisar e reunir material sobre o tema ao longo de 30 anos. Há oito anos deu por concluído o estudo e enumerou 30 mil verbetes que têm influência da língua indígena. A maior parte traz o significado da palavra, a língua de origem e como o nome é empregado.
Neste sábado (16), o resultado da pesquisa será lançado na Bienal Internacional do Livro na cidade de São Paulo. O "Dicionário de palavras brasileiras de origem indígena" traz expressões que tiveram influência das línguas tupi-guarani, aruaque, caribe e macro-jê, que, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai) é um tronco lingüístico, de onde se originaram diferentes línguas.
São Paulo foi um dos estados que mais sofreu influência do tupi-guarani, língua falada pelos bandeirantes. "A maioria deles era mameluco, filho de português com índia. Como eram cuidados pelas mães, aprenderam a língua delas", explica.
Ibirapuera, Anhangabaú, Pacaembu, Morumbi, Tietê: todos são nomes com origem indígena e possuem significados distintos. Ibirapuera, por exemplo, significa, segundo Chiaradia, "lugar que foi mato" e vem de "ibira", que quer dizer árvore, madeira e "puera", que tem sentido de algo que foi. Já Tietê, significa rio (letra i) verdadeiro (etê). O dicionário lista as palavras em ordem alfabética.
O vocabulário indígena, explica o autor, é, em grande parte, baseado na designação de características da fauna, flora, do clima e do folclore. Daí muitas cidades e acidentes geográficos terem nomes baseados nessas línguas. Paranapiacaba, que significa "lugar de onde se vê o mar", ganhou esse nome, segundo Chiaradia, porque saindo de São Paulo em direção ao Litoral Sul, depois da serra é possível ver o mar. É comum no tupi-guarani, uma palavra significar uma frase, pois é composta da aglutinação de vários termos. No caso de Paranapiacaba, "paraná", significa mar, "epiac", ver e "aba", lugar.
Grafia
Nesses anos de pesquisa o autor descobriu por que as palavras com origem indígena têm tantas diferenças de grafia. "O tupi-guarani não era uma língua escrita, só falada, aí cada povo, portugueses, franceses, alemãs, holandeses, escrevia como ouvia", diz. A língua foi perdendo força no século 18 quando o governo português determinou que só se poderia falar língua portuguesa no Brasil.
Mesmo com a publicação do dicionário, Chiaradia não quer parar de pesquisar e espera encontrar colaboradores. Há alguns verbetes cuja etimologia ele não conseguiu encontrar, e tem a esperança que alguém que saiba o procure para informar. "São algumas expressões usadas no Nordeste, muitas acabam em ó, como Cabrobó, Icó [cidades de Pernambuco e do Ceará, respectivamente] e outras", cita.
As chances do autor de encontrar a origem dessas palavras é maior, pois 10% da tiragem da obra (que é de mil exemplares) deve ser enviada a bibliotecas públicas espalhadas pelo país, como exige a Lei Rouanet, por meio da qual o projeto foi financiado.
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