A reunião da presidente Dilma Rousseff com o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, para avaliar as últimas manifestações e a violência ocorrida no país nos últimos dias, terminou por volta do meio-dia desta sexta-feira (21), e mostrou que o governo continua "perplexo" com tudo que está ocorrendo, mas descarta a possibilidade de cancelar qualquer tipo de evento programado, como começa a ser especulado.
O governo assegura que o país tem condições de garantir a realização não só da Copa das Confederações, como de oferecer segurança à Jornada Mundial da Juventude e à visita do papa, no mês que vem. Apesar de problemas pontuais, a avaliação é de que a Copa está sendo realizada normalmente.
Não está decidido sequer quem vai falar em nome do governo federal sobre os últimos acontecimentos ou se alguém vai falar. No Planalto, há duas correntes que permanecem discutindo se a presidente Dilma deveria responder aos ocorridos. Há quem ache que, se ela convocar uma cadeia de rádio e TV para falar do vandalismo, poderia trazer o problema para o seu colo. Mas há quem defenda que, de alguma forma, ela, ou alguém designado por ela, fale em nome do governo federal.
Outras reuniões devem acontecer ao longo do dia. Dilma chegou ao Palácio do Planalto às 9h15 e pouco depois começou a reunião com o ministro da Justiça, que estava marcada para às 9h30. Dilma se reuniu também o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e o da Educação, Aloizio Mercadante.
Quinta-feira é marcada por marcha de 1 milhão. E tensão
No mais tenso dia da série de manifestações, cerca de 1 milhão de pessoas protestaram em 23 capitais e pelo menos outras 52 cidades brasileiras. Uma morte foi registrada em Ribeirão Preto, no interior paulista, em uma clara amostra de que os protestos saíram de controle, apesar do esforço dos governantes em baixar a tarifa do transporte público em várias cidades do país para atender ao pedidos dos manifestantes.
Tentativas de depredação de prédios públicos e investidas violentas contra a polícia foram a tônica dos atos. No Rio de Janeiro, os confrontos deixaram feridos. Em Porto Alegre houve registro de saques. Em Salvador, houve conflitos seguidos com a tropa de choque. Em Fortaleza, o Palácio da Abolição (sede do poder estadual) se tornou uma praça de guerra. Na capital paranaense, sete foram detidos após a segunda tentativa de invadir o Palácio Iguaçu.
Mas a cena mais violenta foi a tentativa de invasão do Palácio do Itamaraty, em Brasília. Após duas semanas de protestos, foi o ataque mais violento a um centro de poder. Anteriormente, o Congresso, a Assembleia Legislativa do Rio, o Palácio dos Bandeirantes e o Edifício Matarazzo (sede da Prefeitura de São Paulo) haviam sido alvo de vandalismo.
Descontrole
Impedida de subir no teto do Congresso e de se dirigir ao Palácio do Planalto, uma pequena parte dos cerca de 30 mil manifestantes que se reuniram na Esplanada dos Ministérios forçou a entrada no Palácio do Itamaraty. Eles jogaram coquetéis molotov contra o prédio, destruíram vidros da fachada e foram repelidos com bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
Antes, no Congresso, pelo menos uma pessoa foi atingida por um desses rojões e precisou de atendimento médico. Até as 22 horas, o saldo era de mais quatro policiais feridos e um manifestante não havia um número definido de detidos pela polícia. A manifestação foi a maior realizada na capital desde o início dos protestos, na semana passada.
Como em outras manifestações similares pelo país, o evento foi organizado por diferentes grupos. Os dois principais foram o Acorda Brasília! e o movimento Copa pra Quem?, que já havia promovido o primeiro protesto na capital, sábado, antes da estreia da seleção brasileira na Copa das Confederações. A maioria dos participantes, no entanto, não tinha vínculo com qualquer organização.
A grande maioria dos participantes fez protestos pacíficos e vaiou os envolvidos em vandalismo e violência. "Vim para pedir paz e vergonha na cara para esses deputados e senadores", disse o professor Luís Brito, 70 anos. Ele e a filha, de 15 anos, levavam uma faixa branca com a palavra paz. No final da tarde, eles se posicionaram próximo à linha de policiais montada para proteger o prédio do Congresso, mas logo tiveram de sair para fugir dos rojões.
Próximo a eles, três universitários carregavam cartazes pedindo melhorias na educação pública. "É o mínimo para conseguirmos no futuro uma sociedade mais digna e sem violência", afirmou o estudante de Engenharia Civil Thomas Mares, 19 anos.
Morte
Um motorista avançou sobre um grupo de pessoas na Avenida João Fiusa, em Ribeirão Preto, no interior paulista, matando um dos manifestantes que participavam do protesto contra a tarifa de ônibus. Um rapaz de 18 anos morreu no local e quatro pessoas ficaram feridas. O condutor do veículo fugiu, mas a placa foi anotada por testemunhas.