O dono do restaurante vegetariano da Rua São Francisco que foi depredado na semana passada saiu do Brasil. Raphael Viana, proprietário do Capivara Vegetarian, deixou o país e agora vai trabalhar em uma fazenda em troca de hospedagem. A depredação do restaurante seria uma retaliação por ele ter delatado um esconderijo de maconha. Mesas, cadeiras, expositores e equipamentos eletrônico foram destruídos, em prejuízo estimado de R$ 10 mil. O estabelecimento já estava fechado para reavaliação desde então.
Antes do ataque, três pessoas entraram no restaurante, também na semana passada. Uma delas, armada, que teria ligação com o tráfico de drogas, o ameaçou de morte. À Gazeta do Povo, Viana fez um longo desabafo sobre a situação. Ele se recusou a ingressar no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, vinculado ao Poder Judiciário, e já não vive mais em Curitiba.
Quando você viajou?
Viajei na segunda-feira, após me enviarem informações mais concretas sobre as ameaças, que até então eram apenas dos traficantes da rua. Não imaginava que corria tanto perigo assim, pensava que poderia estar superestimando a situação. Mas quando recebi fotos com meu BO [boletim de ocorrência] no meu celular e escutei uma gravação, vi que talvez fosse mais correto sair do país. Não voltei para casa aquele dia, fiquei no local que estava, pedi para uma amiga ir buscar alguma roupa, meu passaporte e comprei a primeira passagem disponível e viajei.
Você mandou essa gravação para a polícia?
Eu fui 1º tenente do Exército Brasileiro, trabalhei no Batalhão da Guarda Presidencial. Tenho noção de como me defender, de como me proteger. Não fiz isso na loucura. Infelizmente fui plotado [descoberto], mas já tinha ajudado em outras operações. Já tinha ajudado a polícia a fazer algumas outras operações na Rua São Francisco, todas com êxito. Infelizmente essa vez foi um vacilo que eu dei.
Como eles “flagraram” que você passou informação? A partir disso foram direto para cima de você?
Me viram falando com um policial da Rocam [Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas], indicando que a droga estava enterrada numa floreira. A Rocam levou um deles preso e os outros que estavam na revista policial se juntaram com mais alguns e entraram no Capivara para me ameaçar. Eles não me mataram pois eu me levantei na hora, gritei que era PM. Nessa hora eles se assustaram. Ninguém mata PM assim, à toa, e foi isso que me salvou. Fechei as portas na segunda [5 de dezembro], fui em alguns departamentos da polícia onde tinha contato, contei o ocorrido. Na terça [6 de dezembro], abri novamente, me ameaçaram, não dei bola. Na quinta-feira [8 de dezembro] descobriram que eu não era PM, quando entraram no Capivara eles gritavam “Você é mentiroso, você vai morrer, você não é PM porra nenhuma... E quebraram tudo, não reagi, deixei eles quebrando, e chamei a Rocam. Como estava em contato direto com eles, chegaram em dois minutos e prenderam em flagrante.
Como está sua situação fora do Brasil?
Estou sozinho, vim com a cara e coragem. Antes de vir, paguei as contas que iriam cair até um mês para frente, zerei meu caixa, sobrou apenas dinheiro para comprar a passagem e algum trocado para me virar por aqui. Eu estava muito assustado, muito mesmo. Mas a repercussão foi tão grande que já me ajudaram por aqui. Estou bem, vou morar em uma fazenda, vou ficar retirado por lá por um bom tempo trocando trabalho por comida, hospedagem e um pouco de dinheiro.
Você pensa em voltar?
Não tão cedo, mas gostaria de algum dia poder voltar e morar na cidade. Já morei em vários lugares e escolhi Curitiba como minha casa. Só se dá valor para a cidade quando você mora fora e conhece outros lugares e Curitiba é uma cidade sensacional para se morar, é muito gostoso, mas infelizmente não será possível para mim tão cedo.
Por que você recusou o Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas?
Rejeitei o serviço de proteção a testemunha ofertado pelo governo, pois além de não onerar o Estado, não precisarei passar por um processo maçante, onde estaria mastigando o ocorrido, sendo que a proteção duraria apenas dois anos, o que não considero um prazo suficiente para me sentir seguro.
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