Violação da lei
A utilização de espuma no isolamento acústico da casa noturna Kiss violava a lei municipal de prevenção e proteção contra incêndios de Santa Maria (RS). Apesar disso, o estabelecimento recebeu alvará de funcionamento da prefeitura da cidade e tinha válido, até novembro, o auto de vistoria do Corpo de Bombeiros. A situação da boate "estava totalmente regular", segundo o prefeito de Santa Maria, Cézar Schirmer (PMDB). "Em relação à fiscalização municipal, estava tudo certo." A prefeitura pretende, agora, fazer um "pente-fino" em todas as casas noturnas da cidade.
73 feridos
em estado grave estão internados 43 em sete hospitais de Porto Alegre; 27 em pelo menos oito hospitais de Santa Maria; e três em um hospital de Canoas. Outros 52 feridos estão em observação em Santa Maria.
231 pessoas
morreram no incêndio. Destas, 117 eram homens e 114, mulheres
Mil militares
da Força Aérea Brasileira, além de ao menos cinco helicópteros e cinco aviões (quatro de pequeno e médio porte e um de grande porte), dão suporte à operação de atendimento às vítimas. Destes, 64 são médicos e enfermeiros e quatro psicólogos.
Um dia depois da tragédia em Santa Maria (RS), quatro pessoas investigadas pelo incêndio que matou 231 pessoas na madrugada de domingo, na boate Kiss, tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça. O empresário Elissandro Spohr, sócio da casa noturna, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o carregador de instrumentos Luciano Bonilha, integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava na hora do acidente, foram detidos em outras cidades. Spohr foi achado em um hospital de Cruz Alta, a 132 quilômetros de Santa Maria. Santos e Bonilha foram encontrados em Malta, a 80 km. Outro sócio da Kiss, o empresário Mauro Londero Hoffmann, se apresentou à polícia. Todos, em depoimento, se eximiram de responsabilidade na tragédia.
Santos é acusado de acender o "sputnik", tipo de fogo de artifício que solta uma série de faíscas brilhantes e que teria iniciado o incêndio na boate. "O que temos de concreto é que o sinalizador foi usado e que as portas não deram vazão à saída das pessoas", disse o delegado titular da 3.ª Delegacia Regional de Santa Maria, Marcelo Arigony. Ontem, a boate passou por perícia.
Segundo o Ministério Público do Rio Grande do Sul, eles foram detidos para que provas sobre a tragédia possam ser recuperadas e preservadas. "Há suspeitas de que eles [detidos] estejam com provas que interessam e que podem sumir", afirmou a promotora Waleska Agostini.
Também ontem, a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul ajuizou uma ação cautelar no Fórum de Santa Maria pedindo o bloqueio de bens dos donos da boate Kiss. O pedido abrange ainda eventuais bens registrados em nome da boate como pessoa jurídica.
"A Defensoria está pedindo a indisponibilização dos bens para garantir indenizações futuras, em razão da gravidade do fato, do número de envolvidos e temendo que os donos se desfaçam do patrimônio", afirmou o defensor geral do estado, Nilton Leonel Maria.
Feridos
Enquanto segue a apuração, continua também a dor das famílias das vítimas. Oitenta e duas pessoas foram enterradas no Cemitério Ecumênico Municipal de Santa Maria. As covas foram cavadas por cerca de 150 soldados do Exército, antes de o sol nascer.
Mesmo quem conseguiu escapar pela única porta da boate, enfrentando o escuro, a fumaça e a falta de sinalização, ainda não está livre das consequências do incêndio. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, 73 feridos estão em estado crítico e ainda correm risco de morrer. Um sobrevivente foi diagnosticado com pneumonia química, consequência da fumaça inalada. O tratamento dos feridos é feito pelo sistema de saúde mobilizado para a tragédia e pelas Forças Armadas.
Imprudência
Casa noturna tinha mais gente do que o permitido, dizem bombeiros
Folhapress
A casa noturna Kiss estava autorizada a receber até 691 pessoas, informou ontem o comando do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul. No dia da tragédia, abrigava entre 900 e mil, segundo a polícia. O plano de segurança da casa, que estava vencido, também não previa o uso de fogos em seu interior.
Um dos pontos de investigação da polícia é que a superlotação tenha impedido uma saída rápida do prédio, expondo por muito tempo as vítimas à fumaça. Elas morreram por asfixia ou intoxicação. A casa não possuía portas de emergência, o que não é uma obrigação, desde que respeite o limite estabelecido em seu plano de segurança.
"A norma brasileira nº 9.077 [que dispõe sobre saídas de emergência] diz que a saída deve ser adequada ao número de pessoas autorizadas no local. Para aquele número, 691 pessoas, aquela abertura era suficiente", disse o comandante do Corpo de Bombeiros gaúcho, coronel Guido Pedroso de Melo. A porta tinha cerca de quatro metros de largura.
Os bombeiros são responsáveis por aprovar o plano de segurança de casas noturnas. O da Kiss expirou em agosto. Além disso, a licença da prefeitura estava vencida. "Fizemos vistoria assim que o alvará expirou e verificamos que os itens mínimos de segurança iluminação e sinalização de emergência, além dos extintores estavam em dia", afirmou o coronel. Os donos da Kiss já haviam solicitado renovação. "A lei diz que, enquanto está em andamento a renovação, não há motivo para interditar o local se ele tem [equipamentos de] prevenção. E ele tinha."Permissão
No entanto, diz Melo, para usar artefatos pirotécnicos seria preciso pedir permissão aos bombeiros, com a apresentação do projeto de prevenção de incêndio específico. Segundo a polícia, o fogo começou quando um integrante da banda ergueu um artefato pirotécnico chamado de "vela fria", uma espécie de sinalizador.
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