Ônibus parado na Praça da Bandeira, apelidada de “Praça da Banheira” pelos cariocas| Foto: Alexandre Brum/Agência O Dia

Prefeito quer remoção de áreas de risco

Com dez mil casas em áreas de risco, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), defendeu a remoção de moradores e atacou "demagogos de plantão’’ que condenam a prá­­tica. A meta da administração é reas­­sentar 15 mil famílias até 2012, atingindo também casas em lo­­cais insalubres ou ilegais. Em um ano de mandato, a prefeitura retirou dessas áreas 750 famílias, mas elas ainda aguardam uma casa e re­­cebem aluguel social. "Os demagogos de plantão, toda vez que se fala em reassentamento, só aparecem na hora da seca. Na hora da chuva a gente não vê nenhum deles’’, afirmou. A maioria das mortes na capital ocorreu em áreas mapeadas como de risco. Segundo o Instituto Pereira Passos, as áreas ocupadas por favelas avançaram 6,9% entre 1999 e 2008. No entanto, a estimativa é que o crescimento populacional foi maior, em razão do crescimento vertical, com aumento de casas com novos andares.

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Bombeiros trabalham nos escombros do Morro do Andaraí, onde duas pessoas morreram soterradas
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Tragédias como a registrada no Rio de Janeiro poderiam ser evitadas se o poder público planejasse e executasse ações preventivas. A fórmula simples é repetida por especialistas a cada tragédia, mas não é ouvida pela maior parte dos gestores municipais. O volume de chuva no Rio de Janeiro foi imprevisível, mas o assustador número de óbitos poderia ser reduzido a quase zero, segundo os especialistas se três itens fossem aplicados efetivamente. O primeiro é estudar os processos geológicos da região, ou seja, saber onde pode haver alagamentos, desmoronamentos ou deslizamentos. O segundo, obviamente, é evitar a ocupação humana nesses locais. Por fim, ter uma defesa civil estruturada, com ações estabelecidas em um plano diretor para o caso de emergências. As três regras se aplicam a qualquer cidade, mas poucas as colocam em prática.

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Na região metropolitana de Curitiba, por exemplo, se o mesmo volume de chuva atingisse os municípios, o estrago seria semelhante ou até maior. No início do ano, um levantamento da 6.ª Coordenadoria Regional de Defesa Civil do Paraná (Coredec) mostrou que nenhum município da região, à exceção da capital, possuía um Plano Diretor Municipal de Defesa Civil. Isso significa que os gestores sequer saberiam o que fazer em casos de desastres, deixando a população desassistida.

As enchentes e alagamentos já se tornaram comuns nas grandes cidades. No caso do município do Rio, que se aplica também às principais capitais do país, o que se assistiu na metade do século 20 foi um grande êxodo rural. As cidades não conseguiram absorver o grande contingente populacional e as encostas de morro e beiras de rio ficaram lotadas de pessoas. O poder público permaneceu quase inerte perante o avanço das ocupações irregulares. A falta de planejamento gerou uma impermeabilização do solo. O concreto e o asfalto impedem que o solo absorva adequadamente a água de chuva. Isso, aliado ao lixo nas ruas entupindo os bueiros e bocas de lobas, resulta nas cenas trágicas no estado fluminense.

Para o geólogo Renato Lima, diretor do Centro de Apoio Cien­tífico em Desastres da Uni­ver­sidade Federal do Paraná (UFPR), o número de mortos no Rio de Janeiro é absurdo. "Infelizmente essas perdas não são recuperáveis. Resta agora conscientização". Por isso, é essencial voltar esforços para pesquisas, estudos e planos emergenciais. As cidades podem se preparar para desastres, mas desde que poder público e sociedade civil estejam conscientes.

O urbanista e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica o Paraná (PUCPR) Clóvis Ultramari diz que a discussão sobre a prevenção de desastres é antiga. "É a velha história: planejamento e resposta rápida", afirma. Apesar disso, ele diz que dificilmente ha­­verá padrões que garantam 100% de segurança nesses casos. "De certa forma, isso faz parte da vida nas cidades".

Outra discussão levantada pelo professor é que, quanto mais se restringe o uso do solo, mas caro ele fica. Em cidades ricas a fórmula funciona bem porque a população tem dinheiro, tanto para bancar os preços altos quanto para investir em tecnologia contra os desastres. Já em cidades pobres, o problema parece não ter fim.

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