O rebuliço de informações na segunda década do século 21 e a necessidade de ampliar o horizonte de aprendizagem foram assuntos abordados pelo filósofo e educador paranaense Mário Sergio Cortella durante palestra realizada em Curitiba nesta segunda-feira (22). De forma bem-humorada e em uma espécie de aula expositiva, o educador disse que os profissionais precisam estar disponíveis para o aprendizado contínuo para não ficarem para trás.
Nascido em Londrina, o filósofo e escritor é professor da PUC-SP e possui mestrado e doutorado em educação. Ele falou para cerca de 670 pessoas no Teatro Bom Jesus, em evento da empresa NeoPlan, que oferece serviços para o autodesenvolvimento de profissionais, com foco em aprendizado contínuo. Cortella falou para um público de educadores e profissionais da área gestão de competências.
O educador diz que os profissionais precisam estar ligados às novidades, em número cada vez maior. “Há 30 anos, aprender algo permitia que eu pudesse praticar aquilo por um bom tempo sem precisar modificar. Hoje não mais. Há 11 anos não existia Facebook, não existia Orkut. Hoje o Orkut não existe mais”, exemplificou.
Na opinião do educador, o que uma pessoa já sabe não proporciona novos horizontes de aprendizado. “Se eu te pergunto se você leu a Ilíada, não precisa ter vergonha ao dizer que não leu. Se não leu, terá o prazer de ler pela primeira vez”. Cortella pontuou, entretanto, que as pessoas precisam filtrar as novidades. Para garantir o conhecimento, segundo ele, é necessário ter critério para selecionar informações, o que ele chamou de “pré-ocupação” (usar as informações que fazem parte do cotidiano e de nossos interesses). “Conhecimento é inesquecível. É informação que você se apropria”, disse.
Pressa
Além de ter critério nessa seleção de informações para adquirir conhecimento, segundo o filósofo é necessário um pouco de paciência para aprender. Ele usou o exemplo de como decoramos conteúdo na escola. “Quantas vezes, na véspera da prova, ficávamos em casa decorando o conteúdo? Isso não é aprender”. O brasileiro, na opinião dele, é acostumado a ter pressa.
“Para nós, o longo prazo é em julho; o médio prazo é quarta-feira; o curto prazo foi ontem”, brincou. Em contrapartida, citou povos milenares, como chineses, que se preocupam mais com aprendizado contínuo. “Recentemente o governo chinês adquiriu vários pianos para ter, em cem anos, os melhores pianistas. Ou seja, eles não estão preocupados com quem vai usar os pianos só agora”.
Cortella criticou o apressamento do ensino em universidades que ofertam cursos de graduação em apenas dois anos e, muitas vezes, ofertam a pós-graduação também em dois anos na sequência. Isso prejudica o aprendizado e o ensino. “É uma educação ‘miojizada’ [referência ao macarrão instantâneo]. O conhecimento se dá de maneira adensada, com paciência.”