| Foto: Antonio Costa/ Gazeta do Povo

Questão interessantíssima levantada por um leitor: já que os brasileiros têm muita dificuldade com a ortografia, não seria melhor que todos escrevessem do jeito como falam?

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Nosso apego a questões ortográficas já foi tratado mais de uma vez neste espaço e continua sendo tema para outras colunas, mas hoje pretendo apenas mostrar alguns problemas que essa proposta acarretaria.

Primeiro: em nosso país vivem quase 200 milhões de brasileiros que não falam da mesma forma. Não que palavra "casa" (kaza/caza) saia "mesa" (meza), mas o fato concreto é que uma ou outra palavra vai ser pronunciada de maneira diferente, inclusive por gêmeos. Esse problema não é nada quando levamos em conta a questão dos sotaques: como transcrever a "porta" de um baiano, de um gaúcho e de um carioca? Se colocarmos a palavra no plural, a coisa piora.

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Certamente nosso alfabeto não daria conta. O jeito seria apelar para o Alfabeto Fonético Internacional – mais de 100 símbolos, só entre letras e diacríticos. E mesmo assim voltaríamos ao ponto inicial: falamos de forma diferente.

Segundo: todos nós que já passamos pelas classes de alfabetização precisaríamos voltar a estudar (muita gente ia ganhar dinheiro com isso). Mas tudo bem. O maior problema seriam as crianças que estão entrando agora na escola. Além de não falarem exatamente da mesma forma, não haveria professores qualificados para ensiná-las. Voltando à questão do sotaque...

Sem querer pôr barreiras a propostas como essa, ainda cabe lembrar que não falamos palavra por palavra. Uma sequência como "mas se ele for esperto" pode sair assim: maisielifoispértu.

Por essas e por outras, cuido que o melhor caminho é investir maciçamente na educação básica e na qualificação dos professores, o que implica um excelente plano de carreira.

Nosso sistema de escrita é muito bom. Precisamos fazer a nossa parte.

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